Os gerentes de fundos de hedge são conhecidos por apostar contra a corrente, e neste ano muitos parecem estar agindo assim ao apoiar o candidato do Partido Democrata à Presidência dos EUA, Barack Obama, e ao contrariar a tendência existente em Wall Street de ficar ao lado dos republicanos. Novos dados mostram que o candidato democrata, senador pelo Estado de Illinois, angariou 822.375 dólares em doações de campanha junto a funcionários de fundos de hedge, contra 348.300 dólares para seu rival do Partido Republicano, John McCain (senador pelo Estado do Arizona). Os dados, compilados para a Reuters pelo Centro de Respostas Políticas, um grupo não-partidário de pesquisa sobre o financiamento de campanhas, refletem a crescente preocupação com o custo cada vez maior do sistema de saúde e com outras questões internas nas quais, segundo os gerentes de fundo de hedge, Obama possui uma vantagem em relação a McCain. "Minha meta não é pagar menos impostos", disse William Ackman, gerente do fundo de hedge Pershing Square Capital Management, conhecido por pressionar a direção de empresas a aumentar seus lucros cortando custos ou vendendo subsidiárias. "Minha meta é eleger uma pessoa incrivelmente inteligente e capaz." Via de regra, os gerentes de fundos de investimento custeiam candidatos conservadores do ponto de vista fiscal, candidatos esses que prometem manter os impostos baixos e limitar ao mínimo necessário os instrumentos de regulamentação. McCain se encaixaria melhor nesse perfil do que Obama. O republicano não quer alterar os benefícios fiscais criados pelo presidente George W. Bush em 2001 e 2003 e que devem deixar de vigorar em 2010. E ele prometeu dobrar uma dedução de 3.500 dólares para os pais que criam filhos. Obama deixaria que expirassem os benefícios fiscais de Bush para os que ganham mais de 250 mil dólares por ano. O democrata propõe um crédito fiscal de 500 dólares por pessoa, ao ano. Alguns gerentes de fundos de hedge, um setor que movimenta 2 trilhões de dólares, preocupam-se com a possibilidade de um governo Obama gerar um clima regulatório mais rígido. O candidato defendeu regulamentações mais severas para os que especulam em torno do petróleo. Mas os planos dele para os sistemas de saúde e educação encontraram eco entre muitos participantes do setor, na opinião dos quais essas questões são mais prementes para a economia e para seus próprios bolsos do que os descontos fiscais e uma regulamentação eventualmente mais intensa. Os funcionários do fundo de hedge Citadel Investment Group, de 20 bilhões de dólares, doaram, por exemplo, 185.300 dólares para Obama. Os funcionários da Taconic Capital Advisors doaram 42.650 dólares para o democrata e 500 dólares para McCain. DOAÇÕES PARA MCCAIN O republicano também conta com algum apoio dos fundos de hedge. Os gerentes e outros funcionários da Moore Capital Management LLC, em Nova York, por exemplo, doaram 42.600 dólares para a campanha dele. Em maio, McCain arrecadou mais dinheiro do setor, em um total de 59.875 dólares, do que Obama, com um total de 20.400 dólares, mostraram os dados. Ao mesmo tempo em que surge como maior doador de Obama, o Citadel viu seus funcionários doarem 11.400 dólares para a campanha de McCain. "Claramente, as pessoas tentam conquistar influência junto aos candidatos e fazem o máximo possível com vistas a isso", disse um gerente de fundo de hedge de Chicago que não quis ter sua identidade divulgada. Alguns indícios sugerem ainda que os milhares de jovens gerentes de fundos de hedge, profissionais com boa formação, encontram-se mais alinhados com os democratas do que com os republicanos neste ano. Isso se deve em parte ao que um gerente de fundo de hedge de Nova York descreveu como sendo uma profunda decepção com o governo Bush, membro do Partido Republicano. "As pessoas querem tirar esse partido do poder e, em vista disso, a gente vê gente cujos interesses financeiros seriam outros alinhando-se com os democratas," afirmou o gerente, que tampouco quis ter sua identidade revelada. Um outro fator que favorece Obama seria menos palpável -- sua imagem cativante. Muitos gerentes de fundo de hedge, que já deram provas de seu poder de influência obrigando grandes empresas norte-americanas a mudar de rumo, identificam-se com o candidato, jovem e carismático, uma figura parecida com eles próprios. (Reportagem adicional Dane Hamilton em Nova York)