O ministro da Presidência da Bolívia, Juan Ramón Quintana, pediu calma neste domingo e disse que o presidente do país, Evo Morales, está "muito preocupado" com a violência que já deixou pelo menos dois mortos e centenas de feridos em Sucre. Nos últimos três días, Sucre vem sendo palco de confrontos entre a polícia e manifestantes que se opõem à aprovação em primeira instância pela Assembléia Constituinte, de uma nova Constituição. As mobilizações começaram na sexta-feira, em rechaço à decisão da base do governo de instalar a Assembléia Constituinte em um colégio militar e aprovar a nova Carta Magna sem a presença da oposição. As autoridades afirmaram ter tentado controlar os protestos que se seguiram à sessão utilizando apenas cacetetes e bombas de gás lacrimogêneo. O advogado Gonzalo Durán, de 29 anos, morreu nos confrontos, ferido por um tiro. O ministro Alfredo Rada, no entanto, afirmou que não foi usada munição letal pelas tropas de choque. Neste domingo, o comandante da Polícia Nacional, Miguel Vásquez, afirmou que o policial Jhimmy Quispe morreu em conseqüência de um linchamento por uma multidão em Sucre. No sábado, milhares de cidadãos que exigem o traslado da sede do governo para Sucre saíram às ruas e se dirigiram ao local da sessão constituinte, cercada de policiais, militares e de camponeses que haviam chegado de várias partes do país para apoiar o governo e a Assembléia. Para conter os manifestantes e evitar um confronto entre os grupos rivais, os policiais e militares tiveram que lançar bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Dentro do colégio militar, os representantes do governo analisavam a demanda pela transferência a Sucre do Executivo e do Legislativo, que hoje funcionam em La Paz. A Assembléia não aprovou o traslado desses poderes, mas estabeleceu a transferência à cidade da Corte Nacional Eleitoral, com o nome de "quarto poder do Estado". Outro poder, o Judiciário, já funciona hoje em Sucre. Dos 255 representantes eleitos para a Assembléia Constituinte, apenas 138 estavam presentes, todos aliados ao governo. Desses, 136 votaram pela aprovação geral do texto. Até o dia 14 de dezembro, quando vence o prazo da Assembléia Constituinte, ela ainda deve analisar os artigos da nova Carta em detalhe antes de submeter o texto a um referendo popular. O texto aprovado no sábado estabelece um Estado plurinacional (com respeito às diferentes etnias e culturas), a possibilidade de reeleição do presidente da República, a autonomia das populações indígenas e um Estado comunitário. A oposição rechaçou a forma como o partido de Evo Morales aprovou a Constituição e recomendou uma desobediência civil ao novo texto. O líder da oposição e ex-presidente Jorge Quiroga disse que "é uma verdadeira vergonha" o que ocorreu em Sucre e pediu a intervenção de organizações internacionais no país. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.