Os equipamentos de análise de câncer mais modernos do Brasil não funcionam desde anteontem porque os funcionários das duas únicas instituições que fabricam produtos radioativos para hospitais no País estão em greve. Só em São Paulo cerca de cem exames deixaram de ser feitos nos últimos dois dias. Não há previsão de volta à normalidade. As instituições são o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo, e o Instituto de Engenharia Nuclear (IEN), no Rio. Ambas são ligadas ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Os funcionários estão em greve desde outubro por melhores salários. O Ipen e o IEN são, no Brasil, os únicos produtores do flúor radioativo ligado à glicose. Essa combinação é injetada no paciente. Um moderno aparelho, o PET (tomografia por emissão de pósitron), consegue ?filmar? o caminho do flúor pelo corpo. O PET identifica doenças oncológicas, cardíacas e neurológicas. No caso do câncer, como as células doentes se alimentam de glicose, o aparelho ?filma? o metabolismo do tumor. Isso permite saber, após uma rádio ou uma quimioterapia, quais partes do câncer foram neutralizadas ou não. O PET é capaz de mostrar com precisão se o paciente se curou. A ressonância magnética e a tomografia não têm esse poder. Sem o flúor do Ipen, o Sírio-Libanês foi obrigado a desmarcar os 122 exames agendados para os próximos dias. Parte dos pacientes mora fora de São Paulo e viajaria só pelo exame. ?Ficaram chateados. É difícil explicar ao paciente que a culpa não é nossa?, afirma o médico Antônio Antonietto, um dos superintendentes do Sírio-Libanês. Como a paralisação iniciada em outubro não foi suficiente para que as negociações com o ministério avançassem, os funcionários decidiram anteontem suspender a produção do flúor. O flúor radioativo não pode ser importado nem estocado porque tem meia-vida de duas horas - a atividade do flúor cai à metade a cada duas horas. A produção é feita sob encomenda. O Ipen e o IEN produzem a substância e a entregam ao hospital momentos antes do exame. O flúor produzido no Rio às vezes é levado de avião para Salvador. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo