Uma brasileira e seu filho foram impedidos na semana passada de viajar ao Brasil pelo aeroporto de Beirute devido a uma ordem supostamente dada pelo grupo xiita Hezbollah. A informação foi confirmada à BBC Brasil por uma fonte das forças de segurança do Líbano. Segundo o consulado do Brasil na capital libanesa, a brasileira Nariman O. C., de 21 anos, vinha sofrendo com a violência do marido, o libanês Ahmad Holeihel, um simpatizante do Hezbollah. O caso está sendo tratado com extrema cautela pelo consulado e envolve, inclusive, o trabalho da Organização Não-Governamental KAFA, que ajuda mulheres vítimas de violência doméstica. O aeroporto de Beirute - principal porta de entrada e saída de estrangeiros no país - é alvo de disputa política entre o Hezbollah e o governo do Líbano. Atualmente, a segurança do aeroporto está a cargo do grupo xiita. De acordo com o cônsul-geral Michael Gepp, a brasileira fugiu do marido e logo procurou o consulado para pedir ajuda. No dia 21 de julho, Nariman tentou embarcar de volta ao Brasil com o filho de seis anos, que também é brasileiro, mas disse que foi informada de que ambos estavam impedidos de deixar o país, segundo um documento supostamente emitido por um tribunal religioso de Baalbek. Segundo o consulado, as Forças de Segurança Interna (FSI), do governo do Líbano, disseram que o documento não é oficial. Trataria-se de uma carta não-oficial emitida por uma entidade ligada ao Hezbollah. De acordo com o cônsul-geral brasileiro, o oficial das FSI disse que o documento impedia a brasileira e o filho de viajar e que nada poderia ser feito. Um oficial das Forças de Segurança Internas confirmou para a BBC Brasil que o documento do tribunal religioso de Baalbek foi entregue à segurança do aeroporto pelo Hezbollah, impedindo a saída da brasileira. "Não sei qual a queixa contra mim que me impede de voltar ao Brasil, mas já conversei com o advogado para ver minhas opções legais", disse Nariman à BBC Brasil. Pelas leis do Líbano, a mãe pode viajar com o filho sem autorização do pai. A brasileira é natural de Paranaguá, no Paraná, e no início do ano chegou ao Líbano com o marido e o filho. Eles moravam em Baalbek, no Vale do Bekaa, a 90 quilômetros de Beirute, cidade que é um dos fortes redutos do Hezbollah no país. Segundo ela, Holeihel a espancava constantemente e a ameaçava de morte. Nariman e o filho já trocaram de endereço três vezes desde então, se refugiando em casa de parentes ou em lugares providenciados pela ONG. De acordo com o cônsul brasileiro, o passaporte do filho havia sido rasgado pelo pai, mas o consulado emitiu um novo em caráter emergencial. Com o apoio do consulado, a ONG contratou um advogado para tentar reverter a ordem. "No momento, estamos acompanhando o caso e ver o que pode ser feito. O consulado já comunicou o Itamaraty, pois trata-se de uma caso muito sério", disse o cônsul. Vários políticos e analistas já alertavam nos últimos anos sobre o fato do Hezbollah monitorar e controlar o aeroporto do país, inclusive com ordens extra-oficiais. As instituições de segurança libanesas pouco podem fazer sobre o poder do grupo. Em maio deste ano, o primeiro-ministro Fouad Siniora emitiu uma ordem retirando do cargo o chefe de segurança do aeroporto, um aliado do Hezbollah. As medidas provocaram a ira do grupo xiita, que respondeu com protestos pelo país e que culminaram em choques entre milícias pró e anti-governo que quase levaram o Líbano a uma nova guerra civil. A onda de violência, que deixou todo o oeste de Beirute ocupado por milícias do Hezbollah, matou 65 pessoas e feriu ao menos 200. O governo acabou voltando atrás na sua decisão e reintegrou o aliado do Hezbollah ao seu posto no aeroporto. Um acordo de paz foi depois alcançado entre os dois lados, intermediado pelo governo do Catar. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
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