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História, novidades e chororô

Lances surpreendentes reafirmam os princípios ideais da Semana da Canção Brasileira, em Paraitinga

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Por Lauro Lisboa Garcia e SÃO LUIZ DO PARAITINGA

Em sua autobiografia, o presidente norte-americano Barack Obama fez um comentário sobre Orfeu do Carnaval, de Marcel Camus. O filme, que já tinha sido profundamente marcante para sua mãe, levou-o a lançar uma pergunta sobre sua própria origem. Referências surpreendentes como esta têm pontuado as brilhantes aulas-show, que o professor e compositor José Miguel Wisnik vem fazendo ao lado de Arthur Nestrovski, na 3ª Semana da Canção, em São Luiz do Paraitinga.Iniciando a oficina com A Felicidade, tema do filme que originou da peça Orfeu da Conceição, Wisnik ressaltou com aquela citação de Obama a importância da música de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, não só na revolução estética com as novas harmonias para a canção brasileira, mas pela referência que essa imagem do Brasil se tornou para estrangeiros durante muito tempo. E além disso: a realização do desejo de juntar a Grécia e a África que se deu nas Américas, influenciando toda a música brasileira, cubana e norte-americana.Além de análises profundas, repletas de referências de alta cultura - como Nietzsche, Freud, Machado de Assis, Euclides da Cunha -, elucidadas em linguagem de entendimento geral, as oficinas têm cativado o público com canções brasileiras fundamentais, da bossa nova, da Tropicália, tema do encontro de ontem, e do samba de mestres como Dorival Caymmi, Noel Rosa, Ismael Silva e Nelson Cavaquinho, Cartola.Cada sessão tem terminado com canções que levam a plateia a um chororô geral. Ontem, a linda voz de Jussara Silveira ecoando na Capela das Mercês em Ela e Eu (Caetano Veloso) foi um daqueles momentos antológicos, que só acontecem aqui. Em seguida, mais comoção com Celso Sim se entregando a O Amor (que Caetano compôs sobre poema de Maiakovski) e todos juntos no fim em Força Estranha."É incrível como aqui se abrem possibilidades de entendimento canções que a gente conhece há tanto tempo", disse Jussara. Participando da Semana apenas como visitante, Leci Brandão, uma autoridade em samba, ficou emocionada ao relembrar momentos que viveu com Cartola e Nelson Cavaquinho na oficina de Wisnik. "Essa história eu conheço e também você encontra nos livros, mas da maneira como ele expõe, como ele explica, você tem uma visão muito mais rica de tudo isso", disse Leci.Na noite anterior, Jussara, Rita Ribeiro e Teresa Cristina balançaram o coreto Elpídio dos Santos, na Praça Oswaldo Cruz, com seu belo show Três Meninas do Brasil. Na terça-feira a praça ficou tomada pelos conterrâneos de Elpídio dos Santos (1909-1970), para ver o show de gravação de um programa da tevê Bandeirantes em homenagem ao mais ilustre compositor da cidade.Elpídio também foi homenageado por Passoca, que, entre emotivo e bem-humorado, fez um esclarecedor painel da música caipira. No final, muitas lágrimas rolaram na plateia, quando ele e Suzana Salles, curadora da Semana, cantaram Ranchinho Brasileiro, de Elpídio. Momentos como esse justificam por que Suzana escolheu esta cidade como o lugar ideal para a realização desse evento.Muita música nova e boa também tem fisgado o público, como Feito pra Acabar, que Marcelo Jeneci apresentou no festival de novos compositores dentro da Semana. Até domingo, o evento ainda traz shows de Zélia Duncan, Luiz Melodia, Cordel do Fogo Encantado e outros.

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