O historiador e professor da USP Henrique Carneiro, de 52 anos, acordou ontem com o som de motosserras que podavam as árvores da Praça Laerte Garcia da Rosa, perto da sua casa, no Jardim Rizzo, Butantã, zona oeste de São Paulo. Preocupado com o que poderia acontecer com os fícus, as seringueiras e amoreiras do local, que, segundo ele, já haviam sido podados indiscriminadamente na sexta-feira, Carneiro saiu correndo, mas era tarde. Uma das árvores tinha perdido três partes do tronco e os funcionários da empresa contratada para o serviço seguiam na direção de outra. Como seus argumentos pareciam não convencê-los, o professor subiu na árvore e se recusou a sair dali até que desistissem de cortá-la."Alguns riram de mim, outros até concordaram. As árvores estavam saudáveis, não atrapalhavam a rede elétrica e a ordem era de poda generalizada. Esse tipo de ação é irreparável. Depois que fossem cortadas, nada poderia ser feito", afirma. "A herança brasileira é de destruição do verde, a começar pela Mata Atlântica. Há uma cultura ?antiárvore?, as pessoas parecem ter horror ao verde. O que houve aqui foi um crime, um atentado ao espaço verde e lúdico."Segundo a Subprefeitura do Butantã, um pedido de poda foi feito ao Conselho de Segurança (Conseg) do bairro. A poda, no entanto, seria de uma única seringueira e não das 15 árvores que foram podadas pelas motosserras. A justificativa seria garantir a segurança do local ao aumentar a luminosidade - argumento compartilhado por alguns moradores. "Essa praça é uma escuridão só. Ficamos preocupados com assaltos, várias pessoas ficam escondidas entre as árvores. Eu concordo com a poda de todas elas", afirmou a aposentada Claudette Franco, de 66 anos, vizinha de Carneiro e da praça. "Precisamos de ar, de verde, mas tudo que é exagerado (a atitude de Carneiro de subir nas árvores) deve ser questionado", afirmou outra moradora, a também aposentada Marlene Marcondes, de 77 anos.Para o artista plástico Ivan Pereira, de 72 anos, a segurança é uma preocupação, mas outra solução poderia ter sido encontrada. "Precisamos de iluminação, isso sim. O que fizeram aqui não foi uma poda, foi estupidez. Tenho uma foto do meu filho brincando naquela árvore quando ainda era uma criança. Cortaram 30 anos de história."EstudosA subprefeitura garante que, antes da execução dos serviços, engenheiros agrônomos fazem vistoria e elaboram um laudo técnico indicando a condição das árvores. Segundo o órgão, as medidas são executadas quando as árvores apresentam más condições de preservação, quando estão prestes a cair ou interferem na fiação elétrica. Durante todo o dia, Henrique Carneiro e sua mulher, Sílvia Miskulin, de 41anos, também historiadora e professora universitária, ficaram de prontidão para evitar que a poda recomeçasse. Eles procuraram os vizinhos para pedir apoio e enviaram também uma denúncia para a Procuradoria de Meio Ambiente do Ministério Público Estadual. Carneiro afirma que, caso a empresa retorne, subirá de novo nas árvores para evitar que o corte seja feito. Segundo a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, o serviço foi suspenso ontem, mas será realizado novamente ainda nesta semana. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.