Há um pedaço de Oriente escondido entre as muitas árvores, praças e quadras poliesportivas do Parque do Ibirapuera, na Zona Sul. Batizado de Pavilhão Japonês, o belo prédio com lago de carpas e jardim típico é o único na Cidade com arquitetura 100% nipônica e costuma receber público variado, tanto na idade quanto no estilo. Entre os visitantes, não são muitos os que sabem de um detalhe bastante curioso: a casa foi projetada e construída do outro lado do mundo e chegou a São Paulo pronta, em 1954, a tempo de entrar na lista dos eventos comemorativos pelo 4.º Centenário da Capital. A arquitetura do pavilhão - inspirada na Vila Imperial de Katsura, erguida no século 17, em Kyoto - chama a atenção de quem anda no parque. Mas é o valor social que torna a construção tão importante para os paulistanos, principalmente para os que têm olhos puxados. O prédio, executado pelo arquiteto e professor da Universidade de Tokyo Sutemi Horiguchi, foi uma forma de a comunidade japonesa demonstrar gratidão à Cidade e dividir um pouco da cultura oriental com seus moradores. "A construção teve o mérito de proporcionar uma idéia, mesmo que limitada, para uma sociedade que está geograficamente muito distante do Japão", explica Paula Katakura, doutora em Estruturas Ambientais Urbanas. "É um espaço tradicional japonês, que aproxima as duas culturas." De acordo com ela, o jardim não é apenas mais uma área verde no parque. "Ele proporciona repouso, prazer e permite meditação e contemplação. É do cuidadoso emprego das plantas, pedras e água que emerge a beleza do trabalho." Paula dá dicas para quem quer ver o pavilhão de seus melhores ângulos. "A casa foi executada para ser observada a partir do jardim, assim como o jardim deve ser observado a partir da abertura da porta de correr da casa." Outro ponto alto: aproveite que está no local para alimentar as carpas coloridas do lago. A ração pode ser comprada ali mesmo. E para tirar fotos únicas, claro! Comemorações Publicitário e presidente da Comissão de Administração do local, Léo Ota fala da paz que muitos sentem ao entrar no pavilhão. "O objetivo do espaço é a difusão da arte e da cultura japonesa, que estabelece uma interação com os visitantes por meio do bem-estar que o pavilhão propicia." Até o fim de 2008, além das atrações fixas em várias salas, o local terá intensa programação para celebrar os 100 anos da imigração japonesa no Brasil. "Estamos captando recursos para viabilizar um evento com o Museu da Casa Brasileira, programado para ocorrer entre maio e junho", adianta Ota. "Além disso, teremos em junho uma exposição de shodô (arte da caligrafia japonesa)." Mais pavilhões? Ter um patrimônio como esse - repleto de representatividade e beleza arquitetônica - pode ser excelente. Mas espalhar construções semelhantes na Capital não seria uma boa idéia. Isso na opinião do nissei e arquiteto Ruy Ohtake. "Temos de privilegiar a arquitetura brasileira. Não devemos usar outra", justifica Ohtake, autor de prédios como o do Hotel Unique, que se destaca na Avenida Brigadeiro Luís Antônio. "Temos uma expressão cultural tão bonita. Devemos continuar com essa linha contemporânea."