VIGILÂNCIA -Após sumiço da coroa de Nossa Senhora, quatro câmeras foram instaladas na Paróquia Santos Apóstolos, na região do Jaçanã
JORNAL DA TARDE
A batina impecável e o crucifixo de madeira no peito ajudaram o ladrão de igrejas a passar despercebido na Paróquia do Calvário, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. Ligeiro, o homem com disfarce de seminarista foi à sacristia no mês passado e pegou o molho de chaves de todas as dependências do templo. Na Paróquia São Benedito, no Jaçanã, zona norte, Nossa Senhora ficou sem a coroa dourada e reluzente após um furto. Casos assim têm sido comuns em espaços religiosos de São Paulo.
Levantamento feito pela reportagem na semana passada em cem igrejas da capital aponta que, em 2009, pelo menos 35 delas foram atacadas por assaltantes. As queixas foram feitas pelos próprios párocos e diáconos à reportagem. Isso porque a Secretaria da Segurança Pública (SSP) diz não ter estatísticas sobre crimes contra igrejas. Esse número, no entanto, pode ser bem maior. É que há 509 templos católicos na cidade, além de centenas de outros de diferentes religiões.
"Nem sempre a pessoa entra aqui para rezar", lamenta o pároco da Paróquia Santos Apóstolos, na região do Jaçanã, que em novembro instalou quatro câmeras de monitoramento no templo. Ele espera colocar, até o final do ano, outros dois equipamentos de vigilância para evitar episódios como o sumiço da coroa de Nossa Senhora. "Era simples e sem valor comercial."
O grande número de crimes tem levado as igrejas a investir cada vez mais em segurança. Pelo menos 2% delas já têm algum tipo de proteção, como câmeras ou seguranças particulares, segundo o Sindicato da Segurança Privada, Segurança Eletrônica, Serviços de Escolta e Cursos de Formação de São Paulo (Sesvesp).
Grades, portões eletrônicos e cofres também estão se tornando comuns nos templos religiosos, explica Felipe Gonçalves, consultor em segurança. Para o especialista, as igrejas mais "blindadas" costumam ser as evangélicas. "São sistemas sofisticados. Hoje, as igrejas guardam dinheiro."
Na Paróquia Nossa Senhora de Moema, na zona sul, uma das mais tradicionais do bairro, todos esses recursos fazem parte da paisagem religiosa. Os administradores do templo negam ter sofrido assaltos e justificam os apetrechos de segurança às constantes ações de vândalos do lado de fora. Hoje, antes de entrar na igreja, o fiel se depara com um segurança de terno e radiocomunicador.
O sistema de vigilância implementado há quatro anos na Paróquia do Calvário não intimida tanto. O pároco Eugênio Mezzomo só tem uma certeza: o quanto antes quer colocar vigias 24 horas. "A situação é muito complicada. Cofres são furtados seguidamente", diz.
Ali, segundo o pároco, os ladrões apostam numa técnica com cordão, cola e chumbinho, que faz a nota "grudar" e o dinheiro sair do cofre por meio do cordão. "Descobrimos que alguns cheques sumiram daqui e foram depositados. São muitos cheques." Quando é perguntado sobre o número de furtos, o religioso desanima. "Nem estamos mais contando os roubos. Antes de mim, o outro padre sofreu um roubo no cofre da quermesse. Infelizmente, levaram R$ 40 mil."
O Conselho de Pastores afirmou que são comuns os furtos de carros em estacionamentos das casas de oração evangélicas. A Assessoria de Imprensa da Igreja Renascer negou que os templos invistam em segurança. Os dirigentes da Igreja Universal do Reino de Deus não foram localizados pela reportagem. O atendente de uma das unidades na Mooca, na zona leste, afirmou que crimes ali são raríssimos. "Aqui é mais cartão de crédito e débito. Isso não dá para roubar, né ?"