O funcionamento de um conselho que estabelecerá critérios transparentes para a remuneração do produtor de laranja pela indústria do suco do Brasil deve começar até abril do próximo ano, avaliou nesta sexta-feira o dirigente da entidade que reúne as companhias exportadoras, a CitrusBR. "No máximo em abril será implantado, aprovado por autoridades de concorrência, do governo, e para funcionar na próxima safra", disse o presidente executivo da CitrusBR, Christian Lohbauer, nesta sexta-feira, após reunião de integrantes da indústria com representantes de produtores. O encontro desta sexta-feira, na Sociedade Rural Brasileira (SRB), aliás, não foi simplesmente mais um desde que as discussões para estabelecer o chamado Consecitrus, inspirado no Consecana, começaram há pouco mais de um ano. Nesta sexta-feira, estavam reunidos de forma pouco usual os presidentes executivos da Citrovita, que se associou com a Citrosuco, e da Louis Dreyfus Commodities, além do vice-presidente da Cutrale, numa iniciativa que segundo a CitrusBR mostra a intenção da indústria de estabelecer o Consecitrus --as companhias respondem por praticamente toda a exportação de suco do Brasil, que domina 80 por cento do mercado mundial. Estavam presentes também cerca de 50 citricultores, que respondem por cerca de 100 milhões de caixas de laranja, ou mais de 30 por cento da produção paulista. "Muito mais importante do que ser uma referência de preço, o Consecitrus será uma referência de logística, marketing, combate a doenças, instrumento de financiamento de produtores. Todo o universo de dificuldade do produtor poderia ir para a agenda do Consecitrus", explicou Lohbauer. A retomada das discussões para o Consecitrus ocorreu apoiada por iniciativa do ex-secretário de Agricultura de São Paulo João Sampaio, numa tentativa de pacificar um setor cujas discussões foram parar no passado nas mesas das autoridades de concorrência do país, que investigaram a existência de um cartel no segmento e a suspeita de acordos para pressionar o preço pago pela fruta. Segundo o executivo da CitrusBR, o ponto mais básico do Consecitrus seria estabelecer um preço pela fruta, num órgão com participação dos citricultores, que levasse em conta estimativas de safra, o mercado internacional, os estoques de suco, evitando altos e baixos nos preços que afetam o setor. "Dentro desses fatores, a gente avaliaria quanto seria o preço de referência de contrato de laranja, e além disso a repartição dos ganhos e de perdas", disse Lohbauer. "Estamos num momento de escolha. Ou olhamos para frente, ou olhamos para trás. Precisamos trabalhar numa agenda Brasil, que não é só dos produtores ou apenas das indústrias..." disse o presidente executivo da Citrovita, Claudio Ermírio de Moraes, segundo a assessoria de imprensa da CitrusBR --o evento foi fechado a jornalistas. "A Dreyfus acredita no diálogo e que devemos seguir o exemplo do Consecana, num modelo de absoluta transparência...", disse Kenneth Geld, presidente da LDC. O estatuto do Consecitrus está sendo elaborado por um escritório de advocacia, enquanto a fórmula para o estabelecimento de preços é desenvolvida pela MB Agro. O diretor do Departamento de Citricultura da Sociedade Rural Brasileira, Gastão Crocco, que participou do encontro, disse que apesar dos esforços não há garantia de que o Consecitrus funcione a partir da próxima safra. "A gente conversou sobre ter um preço referencial que comportasse ao produtor não ter que devolver dinheiro", disse ele, acrescentando que o setor produtivo é o elo mais fraco da cadeia e que isso deve ser levado em conta por um Consecitrus. (Edição de Marcelo Teixeira)
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