Apesar de voltar a crescer em julho, a produção industrial brasileira dá sinais cada vez mais claros de que está pisando no freio, segundo pesquisas divulgadas nesta quarta-feira horas antes de o Banco Central decidir sobre a taxa de juro do país. Em meio à desaceleração recente da economia brasileira e à turbulência global, analistas esperam que a Selic fique estável, interrompendo um ciclo de cinco altas concedidas para conter a inflação. Mas no mercado há players que apostam até numa queda do juro básico já. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção do setor teve alta de 0,5 por cento em julho sobre junho --mês que teve a queda revisa de 1,6 para 1,2 por cento . O patamar, no entanto, está 2 por cento abaixo do nível recorde do setor, visto em março. Em relação a julho de 2010, houve uma queda de 0,3 por cento, após dois meses de alta. Analistas consultados pela Reuters projetavam alta mês a mês, segundo a mediana das respostas, de 0,7 por cento, e declínio anual de 0,2 por cento. Outra sondagem, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostrou que a confiança da indústria brasileira diminuiu pelo oitavo mês consecutivo em agosto, em 2,2 por cento contra julho. O nível de utilização da capacidade instalada também caiu, de 84,1 por cento em julho para 83,6 por cento em agosto, menor dado desde novembro de 2009 . "Há, de uma maneira geral, um menor dinamismo da indústria nacional", disse o economista do IBGE André Macedo. Para a FGV, os dados de agosto estão "sinalizando um desempenho fraco da indústria no terceiro trimestre de 2011". A indústria já havia sido, segundo analistas, um dos pontos fracos da economia no segundo trimestre --o dado do Produto Interno Bruto (PIB) do período será divulgado na sexta-feira --, gerando uma desaceleração do crescimento sobre o primeiro trimestre. O índice de difusão da indústria medido pelo IBGE confirma essa trajetória cadente do setor. Em julho, 44,4 por cento dos ramos pesquisados aumentaram a produção, sendo que a média histórica deste mês é de 52,6 por cento. Com a perspectiva de que esse arrefecimento continue, seja pelos efeitos da turbulência global, ainda dificeis de medir, seja pelo impacto das medidas de aperto tomadas pelo governo brasileiro desde dezembro --como alta de juro e depósito compulsório--, espera-se manutenção da Selic nesta quarta-feira, em 12,50 por cento, segundo pesquisa da Reuters . "Olhando à frente, a moeda mais forte e uma economia global fraca não são uma boa notícia para as perspectivas de produção industrial", disse Marcelo Carvalho, chefe de pesquisa econômica para América Latina do BNP Paribas. A maioria dos analistas espera manutenção da Selic até o fim do ano, mas muitos não descartam uma revisão nesse cenário, para incorporar uma queda, se a economia global tropeçar e houver um efeito mais significativo aqui. SETORES A pesquisa do IBGE mostrou que enquanto o setor de bens de capital continuo sendo destaque de alta, o de bens intermediários caiu pelo segundo mês. Para Flávio Serrano, economista sênior do Espírito Santo Investment Bank, isso mostra que a demanda doméstica não desacelerou tanto. "Os segmentos voltados à renda e à demanda doméstica, como bens de consumo e bens de capital, cresceram bastante. Você tem a confirmação de que tem condições favoráveis para o Brasil, enquanto os segmentos que dependem mais da economia global, como bens intermediários, é que estão sofrendo", disse ele. Em julho contra junho, apenas a produção de bens intermediários teve queda, de 0,7 por cento. A produção de bens de consumo semi e não duráveis teve expansão de 3,8 por cento, a de bens de consumo duráveis cresceu 2,9 por cento e a de bens de capital aumentou 1,7 por cento. Em relação a julho do ano passado, também apenas o setor de bens intermediários teve retração, de 2,4 por cento. A produção de bens de capital teve a maior alta, de 3,8 por cento, seguida por bens de consumo duráveis (1,3 por cento) e bens de consumo semi e não duráveis (0,8 por cento). (Edição de Alexandre Caverni)