O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), prévia da inflação oficial do país, começou 2013 acelerando, com alta de 0,88 por cento em janeiro, pressionado pelos preços de despesas pessoais e alimentos. O número veio acima do esperado pelo mercado e, embora a expectativa seja de alívio no curto prazo por conta dos preços menores da energia, alimenta ainda mais a atenção sobre os próximos passos de política monetária do Banco Central. Isso porque, segundo analistas, a expectativa é de que a inflação de serviços continuará forte. Pesquisa da Reuters mostrou que a expectativa era de alta de 0,83 por cento no IPCA-15 em janeiro, de acordo com a mediana de 31 analistas. As projeções variaram de 0,71 a 0,87 por cento. "(O resultado) confirmou essa deterioração geral do quadro inflacionário. Nas nossas contas, o IPCA deve rodar acima de 6 por cento (em 12 meses) durante boa parte do ano, até o terceiro trimestre", avaliou o economista da Votorantim Corretora Alexandre Andrade, para quem o indicador encerra o ano com alta de 5,3 por cento. Em 12 meses até janeiro, a inflação pelo IPCA-15 registra alta de 6,02 por cento, afastando-se ainda mais da meta do governo de 4,5 por cento, pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos. Esse cenário aumenta a preocupação do mercado que, apesar disso, ainda vê a Selic estável ao longo deste ano. A taxa básica de juros está na mínima histórica de 7,25 por cento ao ano desde outubro passado. Ao anunciar a decisão sobre a taxa básica de juros na semana passada, o BC destacou em comunicado que os riscos de inflação pioraram no curto prazo. Mas ressaltou que a atividade econômica também tem decepcionado. "Para nós, o BC abandonou o centro da meta há tempos, só não formaliza isso. Mas se houver risco de a inflação romper o teto, achamos que vem mais medidas de cunho fiscal, como desonerações", afirmou a economista da Tendências Alessandra Ribeiro. ALIMENTOS E DESPESAS Segundo o IBGE, o grupo Despesas pessoais registrou alta de 1,80 por cento em janeiro, ante elevação de 1,10 por cento em dezembro. Já Alimentação e bebidas mostrou avanço de 1,45 por cento, acelerando ante leitura de 0,97 por cento no mês passado. Juntos, os dois grupos responderam por 61 por cento do índice do mês, com impacto de 0,35 ponto percentual de alimentação e de 0,19 ponto das despesas pessoais. Entre os alimentos, destacou-se a aceleração dos preços de hortaliças (de 2,67 para 6,48 por cento), feijão-carioca (de -0,10 para 6,25 por cento), tomate (de 0,72 para 6,02 por cento), entre outros. Já entre as despesas pessoais, destaque para o aumento dos preços de cigarro (de 2,66 para 7,05 por cento) e excursão (de 12,15 para 16,18 por cento). O grupo Transportes, ainda segundo o IPCA, mostrou desaceleração, com alta de 0,68 por cento neste mês, ante 0,71 por cento em dezembro. A expectativa entre os analistas é de um alívio no curto prazo por conta da redução das tarifas de energia elétrica nesta ano, de cerca de 20 por cento, mas não suficiente para mudar a dinâmica inflacionária. Os analistas lembraram ainda que, mais à frente, também haverá aumento nos preços dos transportes, adiado por alguns governos regionais à pedido do governo federal. Nos cálculos da economista da Tendências, o IPCA fechado avança em janeiro para uma alta de 0,90 por cento, desacelerando a 0,15 por cento em fevereiro. "O IPCA deve encerrar o primeiro trimestre com alta acumulada de 1,4 por cento, ante 1,3 por cento no (mesmo período do) ano passado. Se não fosse a energia, ficaria bem mais acima", afirmou ela. O setor de serviços continua sendo uma das principais causas para a pressão inflacionária, impulsionado pela renda e salários maiores. Os preços dessa atividade, segundo analistas, devem subir cerca de 8 por cento neste ano, não muito longe dos 8,75 por cento vistos em 2012. "O problema é que o processo inflacionário é ruim, a inflação de serviços mostra-se bastante resistente e está muito alta", avaliou o economista da Saga Capital, Gustavo Mendonça. O mercado vem elevando há três semanas sua expectativa para a inflação neste ano, prevendo agora o IPCA em 5,65 por cento de acordo com a pesquisa Focus do Banco Central. Mas parte do governo ainda espera que os preços mostrem uma queda "mais linear" para meta diante da esperada safra recorde de grãos como milho e soja, depois da pressão de alta que ainda deve ser registrada em janeiro e fevereiro. Uma fonte do governo afirmou na terça-feira que a redução da das tarifas de energia vai mais do que compensar a esperada alta nos preços da gasolina. (Reportagem adicional de Asher Levine)
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.
Notícias em alta | Brasil
Veja mais em brasil