Juízes egípcios anunciam greve em represália a decreto presidencial

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Por TOM BERRY

O órgão que representa a magistratura do Egito pediu uma greve imediata neste sábado em todos os tribunais e gabinetes da promotoria em protesto contra um decreto do presidente Mohamed Mursi ampliando seus poderes. Em uma reunião no Cairo, o Clube de Juízes pediu que Mursi cancelasse o decreto e reinstalasse Abdel Maguid Mahmoud, o promotor-geral da era Hosni Mubarak, que foi afastado como parte da decisão revelada na quinta-feira. Juízes em Alexandria, a segunda maior cidade do Egito, ameaçaram entrar em greve até que o decreto fosse revogado, e houve pedidos de "abaixo o regime" - o slogan no levante que derrubou Mubarak - durante a reunião de juízes no Cairo. Os oponentes e partidários de Mursi - representando a divisão entre os islamistas recém-empossados e uma oposição mais secular - pediram manifestações rivais na terça-feira por causa de seu decreto, que provocou preocupação no Ocidente. Divulgado na noite de quinta-feira, marca um esforço de Mursi para consolidar sua influência depois de ter afastado generais da época de Mubarak em agosto. Defende decisões de revisão judicial tomadas por Mursi até que um novo Parlamento seja eleito em uma eleição que deve acontecer no início do próximo ano. Também protege a assembleia dominada por islamistas, que está redigindo a nova Constituição do Egito, de uma série de desafios legais que ameaçaram dissolver o órgão, e oferece a mesma proteção à Câmara Alta do Parlamento, também controlada por islamistas. A mais alta autoridade judiciária do Egito, o Conselho Supremo Judicial, disse que o decreto era um "ataque inédito" à independência do judiciário. Jovens entraram em confrontos esporádicos com a polícia perto da Praça Tahir, o epicentro do levante que derrubou Mubarak em 2011, depois da violência de sexta-feira na qual mais de 300 pessoas foram feridas em todo o Egito. POLARIZAÇÃO Partidos de esquerda, liberal e socialista pediram um grande protesto na terça-feira para obrigar Mursi a voltar atrás no decreto que, eles dizem, expôs os impulsos autocratas de um homem que já foi preso por Mubarak. Em um sinal da polarização do país, a Irmandade Muçulmana - o grupo que levou Mursi ao poder - pediu suas próprias manifestações naquele dia para apoiar o decreto do presidente. Ao menos três escritórios da Irmandade foram atacados na sexta-feira. "Estamos diante de um momento histórico, no qual ou vamos completar nossa revolução ou vamos abandoná-la para nos tornarmos presa de um grupo que colocou seus estreitos interesses partidários acima do interesse nacional", disse o Partido Dustour, liberal, em um comunicado.

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