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Lições de uma revolta em Massachusetts

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Por Harold Evans
Atualização:

THE GUARDIANLeiam as folhas de chá, mas com cuidado. Para a direita do Tea Party (nova onda conservadora dos EUA), a votação em Massachusetts deve atirar a reforma da saúde no mar. Os conservadores dizem que foi uma eleição contra o presidente Barack Obama, mas essa convicção é uma ilusão. Obama continua sendo um bom sujeito. Os eleitores conseguem distinguir entre o homem e o governo. Os mais maliciosos dizem que a incapacidade de Martha Coakley de manter a vaga no Senado que era de Edward Kennedy significa que a reforma não pode passar. A grande suposição aqui é que os votos contra Martha foram por causa da lei da saúde. Não é verdade. É claro que os americanos estão desencantados com a lei, mas essa não foi uma eleição de um único tema. Mais significativo é o estado de espírito do país e o fato de ele estar ficando tão azedo quanto nos piores anos de Bush.Obama desapontou milhões ao não resolver o problema do desemprego, falhou em seu plano de recuperação e na insistência em fazer da saúde sua maior prioridade. Ele deixou para o Congresso decidir para onde deveria seguir o dinheiro do estímulo econômico. Pouquíssimo foi para infraestrutura e muito foi para fins eleitoreiros. A ideia de um estímulo foi criticada pelos republicanos como gastos descontrolados, mas eles estavam errados. A lição clara da história é que investimentos públicos são fundamentais numa depressão, mas o conceito nunca foi compreendido pelo eleitorado e os conservadores conseguiram incitar ressentimento com a quantidade de gastos sociais.Agora, Obama está em apuros. Ele precisa reanimar a economia, mas a eleição em Massachusetts não lhe dá cacife para isso, especialmente porque a grande fraqueza da lei de reforma da saúde é que ela não é convincente sobre a redução de custos. A despeito de sua fraqueza, ele precisa pressionar por sua aprovação. Primeiro porque a lei é um avanço. Depois porque se ele recuar, o que terá para mostrar? Obama pode se tachado de fraco.Mas uma coisa boa pode emergir da revolta de Massachusetts. Ela pode fazer a liderança democrata parar de achar que pode fazer o que quiser para alimentar a base partidária - isentando sindicatos do imposto sobre planos de saúde luxuosos e ampliando programas sociais. O governo não é tão transparente quanto Obama prometeu. Ele faria bem em lembrar a resposta do vitorioso em Massachusetts, Scott Brown. Questionado se ele votaria contra a reforma se estivesse na "cadeira de Ted Kennedy", ele respondeu: "A cadeira não é de Kennedy. É do povo." *Harold Evans é ex-editor do London Sunday Times

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