Líderes do G8 se reúnem de olho na ameaça de crise

Discussões sobre alimentos e petróleo devem ofuscar o tema oficial sobre o clima.

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Por Rogério Wassermann
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O G8, o grupo que reúne os sete países mais desenvolvidos do mundo mais a Rússia, inicia nesta segunda-feira, no Japão, seu encontro de cúpula anual com os olhos voltados para a ameaça de crise econômica global, alimentada pela alta dos preços globais do petróleo e dos alimentos. A ameaça de uma crise econômica global vem se acentuando nas últimas semanas, com fortes quedas nas principais bolsas de todo o mundo e prognósticos pessimistas feitos por instituições internacionais como o Fundo Monetário Internacional e o BIS, considerado o banco central dos bancos centrais. A preocupação com a saúde da economia global deve dominar as discussões entre os líderes de Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia reunidos até quarta-feira no resort de Toyako, na ilha japonesa de Hokkaido, ofuscando o tema do aquecimento global, escolhido pelos anfitriões japoneses como prioritário para a cúpula. "O recente pedido dos ministros (da energia) do G8 por um aumento na oferta de petróleo ao mesmo tempo em que afirmam com crescente urgência que uma ação imediata é necessária para reduzir as emissões de gases dá mais uma prova de como os interesses econômicos de curto prazo muitas vezes se sobrepõem às preocupações climáticas - e econômicas - de longo prazo", comentou à BBC Brasil Christopher Wright, professor de política da London School of Economics e diretor-executivo do G8 Research Group, um grupo acadêmico destinado a acompanhar e analisar as atividades do G8. Brasil O debate sobre a situação da economia global interessa diretamente ao Brasil, que participa como convidado da cúpula, ao lado de outros quatro países emergentes - China, Índia, México e África do Sul, no último dia do encontro, na quarta-feira. O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de alimentos e tem auto-suficiência na produção do petróleo, mas vê a crise global pressionar os preços internos e ameaçar tanto sua meta de inflação quanto suas perspectivas de manter o crescimento acelerado registrado nos últimos dois anos. A participação desses países emergentes - que compõe o chamado G5 - nas discussões sobre a alta global dos alimentos e do petróleo é vista por muitos como vital, já que eles contam com 40% da população global e registram uma forte demanda por commodities, impulsionada pelo crescimento econômico acima da média mundial. África A reunião terá início oficialmente nesta segunda-feira no início da tarde (início da madrugada no Brasil), com uma reunião entre os líderes do G8 e chefes de Estado de sete nações africanas mais um representante da União Africana. Desde a cúpula do G8 de 2005, realizada em Gleneagles, na Escócia, que o grupo vem prometendo ampliar sua ajuda financeira à África, mas dados de diversas organizações não-governamentais e dos próprios governos mostram que a promessa não tem sido cumprida. Além disso, um documento vazado ao jornal britânico Financial Times há duas semanas indica que os países do G8 deverão baixar o tom de suas promessas à África neste ano, evitando uma referência à meta estabelecida em 2005 de elevar a ajuda financeira aos países africanos a US$ 25 bilhões ao ano. Além da participação do G5, o último dia da cúpula, na quarta-feira, terá a presença dos líderes de Austrália, Indonésia e Coréia do Sul, junto com os outros cinco países emergentes, em uma reunião denominada "Grandes Líderes Econômicos", convocada no ano passado pelo presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, para discutir a questão do aquecimento global. Segurança reforçada A presença dos principais líderes mundiais no país para a reunião de cúpula do G8 deste ano levou o Japão a adotar medidas especiais de segurança em todo o seu território, para evitar possíveis ataques e protestos violentos. Várias organizações não-governamentais internacionais estão planejando a realização de protestos durante o período da cúpula. Os protestos são em sua maioria convocados por meio da internet, sem uma liderança única. Um dos grupos anti-globalização que planejam protestar contraa reunião montou três acampamentos para manifestantes em diferentes pontos da ilha de Hokkaido, com o intuito de tentar chegar o mais próximo possível do local onde acontecerá a cúpula. Porém, a probabilidade de que eles consigam chegar ao local é baixíssima, já que o resort de Toyako, onde acontece o encontro, está totalmente cercado, com segurança máxima e acesso restrito a pessoas credenciadas para a cúpula. Até mesmo o centro destinado à imprensa internacional para a cobertura do evento fica fora da área do resort. Apesar de as manifestações anti-globalização terem perdido força nos últimos tempos em relação ao seu auge, no início da década, os organizadores das reuniões de cúpula do G8 têm preferido abrigá-las em locais afastados das grandes cidades. A escolha de um local de difícil acesso e facilmente controlado pelos serviços de segurança não é coincidência, observa Christopher Wright, do G8 Research Group. "As cúpulas ocorrem em lugares remotos por temor de grandes protestos", diz. "A globalização criou uma pressão para as instituições multilaterais para se tornarem mais legítimas. A proliferação de protestos contra a Organização Mundial do Comércio, o G8, o Fórum Econômico Mundial e o Banco Mundial reflete a crescente habilidade dos críticos de se mobilizarem e a sensação de que as instituições multilaterais não estão conseguindo encontrar soluções para várias questões, incluindo o ambiente e a pobreza", avalia. A última cúpula do G8 realizada numa grande cidade foi a de 2001, em Gênova, na Itália, quando um manifestante morreu durante os protestos dos grupos anti-globalização contra a reunião. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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