Um bom tempo atrás, coisa de 25 anos, o uísque reinava e os vinhos eram presença menos habitual nas mesas brasileiras. As escolhas de rótulos eram bastante limitadas, principalmente no nicho médio de preços. Bordeaux, Borgonha e Champagne havia, mas trazidos nas malas de viagens ao exterior ou comprados diretamente de produtores. Iam dormir sua guarda em adegas de conhecedores.
O bebedor normal de vinho tinha de se virar com o que encontrava nas prateleiras (o plural chega a ser exagerado, em geral era um canto pequeno dos supermercados), uma oferta minguada e tímida, pesadamente chilena e portuguesa, com um pouco de italianos. Sempre vinhos básicos e algo rústicos. Muitos daqueles vinhos, mesmo sem grande qualidade, salvaram enófilos em formação, meu caso. Na falta de um grande Cabernet, depois de estudá-lo no Atlas de Hugh Johnson e nos livros do Amarante e do dr. Sérgio de Paula Santos, o jeito era beber o chileno e sonhar.
O iniciante de hoje não faz ideia de como era complicado aprender vinhos naquele período. Seja como for, sobrevivemos e hoje nadamos na piscina sem bordas de milhares de etiquetas de todos os países produtores do mundo.
Em homenagem àquela época, o tempo das vacas secas, fui visitar os clássicos das prateleiras. São vinhos que, de uma forma ou outra, caíram no gosto do público e permanecem à venda, com consumidores fiéis. Alguns deles, como o Periquita, bebo com frequência, pois é um confiável vinho de batalha que não deslumbra nem decepciona. Outros, como o Cousiño Macul, tinha bem uns 20 anos que não experimentava.
Uma vez, comentando sobre um chileno de resistência no mesmo estilo de vinho produzido em escala, de cujo nome já não lembro, falei com Saul Galvão: "Puxa, este vinho era bom, piorou tanto!". Ele, sempre grande frasista, rebateu: "O vinho continua igual, seu gosto é que melhorou bastante".