O presidente Luis Inácio Lula da Silva inicia nesta quinta-feira (hora local, noite da quarta-feira em Brasília) um giro por três países do sudeste asiático - Vietnã, Timor Leste e Indonésia - em uma tentativa de aproximar o Brasil de uma das regiões mais dinâmicas do planeta. Na pauta do presidente estão assuntos como a produção de energia, mudança climática e comércio internacional. A visita começara pelo Vietnã, uma economia que projeta um crescimento econômico de 7% neste ano, apesar da crise mundial. Em seguida, o presidente segue para Timor Leste, único país de língua portuguesa na Ásia, no qual o governo brasileiro tenta ajudar na reconstrução de um Estado devastado por conflitos que sucederam décadas de ocupação indonésia. O giro termina com uma visita à Indonésia, país de 230 milhões de habitantes que desponta como a maior potência regional, cuja aproximação com o Brasil sempre foi dificultada pela reivindicação de independência timorense, que recebia a simpatia de Brasília. Superadas as divergências, os dois países demonstram uma pauta de reivindicações coincidente em fóruns internacionais sobre mudança climática, produção de energia e comércio internacional. Para o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Visentini, a visita de Lula incentiva a aproximação do Brasil com uma das regiões mais dinâmicas da economia global. "Os países entre a China e a Índia conformam um bloco de 600 milhões de habitantes, portanto com uma grande população e com grande dinamismo econômico", observa ele. "Grandes potências tem interesse ali: a Índia, a China. As potências de fora, como o Japão e os Estados Unidos, também se apresentam, e o Brasil está fazendo sua parte." Missões empresariais Como de praxe, o presidente Lula chegará aos seus destinos acompanhado de uma delegação de 80 empresários brasileiros, que participarão de eventos sobre as possibilidades de negócios entre o Brasil e os países visitados. No Vietnã, as empresas brasileiras podem ficar de olho nos setores de alimentação - os principais produtos vendidos pelo Brasil são carnes -, infra-estrutura, máquinas, siderurgia, metalurgia e aviação, sem contar a possibilidade de entendimentos na área de petróleo e energias renováveis com a estatal petroleira PetroVietnam, hoje um ator presente nas economias vizinhas. Republica socialista que desde 1986 vem implementando um programa de reformas de "renovação" (doi moi), o Vietnã é hoje considerado um dos países mais atraentes para os investimentos estrangeiros, pela sua estabilidade política e econômica, a consistência de seus planos econômicos, a mão-de-obra farta e barata e sua posição privilegiada no Sudeste Asiático. Segundo a embaixada brasileira em Hanói, a organização Asian Business Council chegou a considerar o país o terceiro mais atraente para os investimentos, atrás apenas da Índia e da China. Em relação à Indonésia, país produtor de petróleo e ao mesmo tempo detentor de florestas tropicais, a discussão sobre a questão energética sobressai na agenda bilateral. Os dois emergentes, detentores de matas ameaçadas pelo aquecimento global, não apenas podem ser parceiros na produção de biocombustíveis e energias alternativas, mas seriam diretamente afetados pelas decisões mundiais a esse respeito. No tema da agricultura, Brasil e Indonésia colaboram no G-20, o grupo de países que tenta convencer os ricos a reduzir o seu protecionismo agrícola. Trabalhar a partir de coincidências é uma possibilidade facilitada pela independência timorense em 1999, após quase três décadas de domínio indonésio. Um ano antes, a crise econômica e os altos níveis de corrupção levavam à queda de 32 anos de governo de Suharto. O país ainda carece de estabilidade em determinadas regiões do arquipélago onde estão enraizados movimentos radicais muçulmanos, mas, segundo Paulo Visentini, da UFRGS, está em um ponto mais favorável para ampliar a relação com o Brasil. "Só agora a Indonésia se torna um país maduro para uma relação mais estável. É um dos maiores países do mundo em termos de população, o maior da Asean (o bloco dos paises da Ásia-Pacífico), com alianças muito definidas. E o Brasil tem de fazer alianças se quiser entrar nesse jogo pesadíssimo que é o da produção de energia no mundo." Entre um país e outro, Lula visita o Timor Leste, em uma escala na qual não se prevê sequer o pernoite do presidente. O encontro descrito pelo Itamaraty como "de solidariedade" ocorre poucos meses após a visita ao Brasil do presidente timorense, José Ramos-Horta. Os lideres voltam a se encontrar nesta ocasião, e Lula terá reuniões ainda com o primeiro-ministro Xanana Gusmão e com o presidente do Parlamento Nacional, deputado Fernando Lasama. O presidente retorna ao Brasil na noite de sábado. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
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