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Opinião | Como a diversidade e a inclusão ajudam marcas a não se tornarem "racistas"

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Foto do author Paulo Silvestre
A primeira "transformação" da sequência do comercial da Dove, passando de uma negra para uma branca - Foto: reprodução

O que faz uma marca que investe milhões de dólares em campanhas inspiradoras e emocionantes para apoiar todas as mulheres a encontrarem sua beleza real publicar um comercial que a fará ser acusada de "racista"?

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Foi o que aconteceu com a Dove em outubro de 2017. Na peça, que vendia um sabonete para o corpo, uma mulher aparecia tirando sua camiseta e isso revelava outra mulher em seu lugar, de outra etnia, em uma sequência de cinco. A primeira da série era uma negra, usando uma camiseta escura, que se "transformava" em uma branca, com camiseta clara.

O "racional" por trás da peça era de que o sabonete servia para todas as mulheres. O problema é que o mercado publicitário tem um longo histórico de campanhas racistas de sabonetes, que sugeriram que pessoas negras poderiam ficar brancas se se lavassem com os produtos, como no exemplo a seguir:

 

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A própria Dove já havia sido acusada de racista em 2011, em outra peça de sabonete (abaixo), que mostrava uma mulher negra, uma morena e uma loira. Atrás delas, duas imagens ampliadas de peles. A primeira estava suja e com um letreiro "antes", colocado atrás da mulher negra; a segunda, limpa e com a inscrição "depois" colocado atrás da loira.

 

A Dove não está sozinha nesse tipo de polêmica. Grandes empresas, dos mais diferentes setores, publicaram peças consideradas racistas.

A pergunta que surge é: como empresas, com orçamentos milionários e agências renomadas, colocam em risco a própria reputação assim?

A resposta provavelmente passa por falta de diversidade e de inclusão em suas equipes. Qualquer pessoa negra que visse os anúncios antes de serem publicados provavelmente identificaria o risco associado a eles rapidamente. Mas de nada adiantaria essa pessoa existir se não se sentisse segura para expor sua opinião ou que ela não fosse efetivamente considerada. Essa é a diferença entre diversidade e inclusão.

Como se vê, promover esses valores nas empresas não serve apenas para aparecer bem diante de uma sociedade que valoriza o tema cada vez mais. A diversidade e a inclusão são poderosas ferramentas de negócios e de inovação.

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Quando bem aplicadas, ganham os profissionais, as empresas e toda a sociedade. Por isso, já passou da hora de todos se apropriarem disso.


Assista à íntegra da minha conversa com Shuchi Sharma, VP de Diversidade e Inclusão da Red Hat, a maior empresa de software open source do mundo.

 

Opinião por Paulo Silvestre

É jornalista, consultor e palestrante de customer experience, mídia, cultura e transformação digital. É professor da Universidade Mackenzie e da PUC–SP, e articulista do Estadão. Foi executivo na AOL, Editora Abril, Estadão, Saraiva e Samsung. Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP, é LinkedIn Top Voice desde 2016.

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