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Opinião | Não dá para ficar parado quando a concorrência nos coloca uma faca no pescoço

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Foto do author Paulo Silvestre
Muitas vezes, em nome de manter seus bônus, executivos acabam dizendo bobagens - Foto: divulgação

Em determinado momento da minha carreira, há muitos anos, fui contratado por uma das maiores empresas brasileiras de seu segmento para ensiná-los a fazer produtos digitais. A proposta era ótima e o desafio estimulante: a companhia havia crescido com um negócio azeitado ao longo de décadas, sendo muito respeitada no mercado. Apenas não sabiam como navegar no mundo dos bytes.

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Devidamente empossado e cheio de energia, participei, alguns dias depois, da minha primeira reunião de cúpula. Para meu assombro, ouvi do diretor comercial um comentário sobre meu futuro produto: "se esse negócio vender, eu corto meu saco!"

Confesso que fiquei embasbacado diante de tanta sinceridade empresarial, especialmente de alguém que, a rigor, seria justamente o responsável por tal venda. Por que aquele homem demonstrava uma resistência tão visceral a algo que nunca tinha visto e que, ao que tudo indicava, podia representar o futuro da companhia?

Durante dias, fiquei matutando diante de meu eventual sucesso ameaçar a capacidade reprodutiva do sujeito. Foi quando entendi que o que eu fazia colocava um enorme risco em processos dos produtos tradicionais, amplamente dominados por todas aquelas equipes.

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Aquilo vendia como pão quentinho e o referido diretor apenas precisava manter a lenha no forno para garantir seu gordo bônus no fim de ano. A minha presença ali significava, por outro lado, que todos teriam que sair de sua zona de conforto e abraçar o desconhecido.

Depois de mais de um ano de trabalho da minha equipe multidisciplinar com dezenas de pessoas, lançamos o produto. E para minha incredulidade, as vendas não aconteciam! Teria aquele homem antecipado esse fracasso de maneira tão determinante?

Foi quando percebi que a equipe comercial vendia o produto digital como se fosse o tradicional. Oras, ainda que o primeiro pudesse ser considerado a evolução do segundo, ele embutia características e valores diferentes para um público diferente.

A venda não podia ser a mesma! Fizemos então as alterações necessários no processo e -voilà- elas começaram a acontecer.

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Fiquei então torcendo para tirar o sujeito no amigo secreto do fim do ano. Já tinha até escolhido o presente, que pode ser visto na foto que ilustra esse artigo.

O medo do desconhecido é um dos principais fatores que impedem a evolução de empresas, podendo colocá-las para fora do mercado. Talvez o exemplo mais emblemático seja o da Kodak, que quase quebrou por não apostar em um produto revolucionário que ela mesma inventou: a fotografia digital. Seus diretores preferiram garantir seus bônus, que vinham das vendas de filmes fotográficos. Resultado: depois de alguns anos, foram extintos como os dinossauros!

A inovação sempre foi necessária. Agora, em um ambiente cada vez mais digital e de fortíssima concorrência, ela se tornou crítica.

A boa notícia é que a tecnologia está cada vez mais acessível, seja pela facilidade de uso, seja nos custos envolvidos. E está disponível a todos que se dispuserem a fazer os movimentos necessários.

Os gestores precisam apenas aprender a correr riscos com inteligência. Ficar parado não é mais uma opção!

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Opinião por Paulo Silvestre

É jornalista, consultor e palestrante de customer experience, mídia, cultura e transformação digital. É professor da Universidade Mackenzie e da PUC–SP, e articulista do Estadão. Foi executivo na AOL, Editora Abril, Estadão, Saraiva e Samsung. Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP, é LinkedIn Top Voice desde 2016.

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