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Opinião|Segurança digital deveria ser ensinada na escola, desde a infância

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O finlandês Mikko Hyppönen mostra um disquete para relembrar o início de sua carreira, no palco do Mind The Sec - Foto: reprodução

Os smartphones sempre foram muito cobiçados pelos criminosos pelo seu alto valor e facilidade de negociação. De dois anos para cá, esse apetite cresceu muito, especialmente em São Paulo. Mas ironicamente os bandidos não estão interessados no aparelho, e sim nas diversas portas valiosas que ele abre para a vida da vítima, especialmente suas contas bancárias e cartões de crédito.

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As pilhas de pessoas que tiveram todas as suas economias roubadas dessa forma escancaram como a cibersegurança deixou de ser uma preocupação corporativa e invadiu a vida de todos nós. As vítimas são cada vez mais jovens, incluindo crianças, o que indica que o tema deveria ser inserido nos currículos escolares, adequados à idade de cada aluno.

Os meliantes digitais espalham-se pela sociedade. As empresas preocupam-se com roubos de dados e invasões que paralisem suas atividades. As pessoas temem cair em golpes e que suas identidades sejam roubadas. E agora as crianças estão expostas a diferentes tipos de abusos online e a jogos que podem colocar as finanças de suas famílias em risco.

Ao educar crianças e adolescentes em cibersegurança, a sociedade prepara cidadãos menos suscetíveis aos ataques cada vez mais criativos e ousados do cibercrime. Os sistemas de segurança fazem bem o seu trabalho, por isso as pessoas passaram a ser o foco dos marginais. Então quanto mais cedo essa instrução for feita, melhor será a proteção de toda a sociedade.


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Veja esse artigo em vídeo:


A criminalidade beneficia-se profundamente do meio digital. Até não muito tempo atrás, os criminosos assaltavam agências bancárias e carros-fortes, com um ganho razoável, mas com altíssimo risco de serem presos e até mortos! Com sua digitalização, agora eles praticam milhares de pequenos golpes, que lhes rendem ganhos maiores praticamente sem nenhum risco. E pessoas e empresas sem cultura de cibersegurança facilitam enormemente suas ações.

"O crime sempre esteve na vantagem, não tem regulação, não se preocupa com fazer alguma coisa errada e aparecer na mídia", afirma Paulo Baldin, CISO e CTO da Flipside, empresa que organizou, na semana passada, o Mind The Sec, maior evento de cibersegurança da América Latina, em São Paulo. "Tudo o que eles fizerem está valendo e, quanto pior for o cenário, melhor para eles", acrescenta.

"Quando olhamos para estatísticas internacionais, uma explicação para o motivo pelo qual o Brasil é tão atacado é a quantidade de sistemas antigos que ainda estão em uso", diz o finlandês Mikko Hyppönen, uma das principais autoridades globais em cibersegurança e um dos principais palestrantes no Mind The Sec. "Você não pode proteger um sistema que não possa atualizar contra vulnerabilidades de segurança", explica o especialista, que, em 2016, criou uma "lei" que indica que qualquer equipamento "inteligente" também é vulnerável.

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"Hoje existe uma espécie de 'miniguerra mundial cibernética', com todos os países atacando uns aos outros", sugere o chileno Gabriel Bergel, outra liderança global no setor presente no Mind The Sec. "O Brasil tem muita história nessa área, e a maior e mais madura comunidade de cibersegurança da região, mas, ao mesmo tempo, novos malwares e ransomwares são desenvolvidos aqui", explica. Por isso, especialistas afirmam que o governo deve criar políticas modernas de combate ao crime digital.

A explosão dos usos da inteligência artificial torna o problema ainda mais grave, pois os bandidos estão usando essa tecnologia para ganhar escala e eficiência, tanto nas práticas de engenharia social (para enganar as vítimas), quanto no desenvolvimento de códigos maliciosos para infectar sistemas.

 

Não dá para se ter tudo

"Em cibersegurança, tudo é uma troca", explica Hyppönen. Para ele, "quando privacidade e segurança entram em conflito, podemos querer ter as duas coisas, mas às vezes não dá!"

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Até não muito tempo atrás, a segurança digital não costumava ir além de manter um bom antivírus, firewall e monitoramento de e-mails. Isso ficou no passado com o trabalho híbrido, que permite que funcionários trabalhem um dia no escritório e outro na praia, conectado em uma rede potencialmente insegura. Além disso, os sistemas corporativos, que costumavam ficar isolados nos servidores da empresa, hoje se conectam com plataformas de diversas fontes, como parceiros e clientes.

Por isso, a cibersegurança passa agora pelo que se chama de "observabilidade", ou seja, monitorar continuamente sistemas e usuários para saber o que é um uso "normal" de cada um, para identificar rapidamente ações suspeitas e prevenir ataques.

"A triste verdade é que a defesa contra invasores avançados geralmente requer reunir grandes quantidades de telemetria, alertar em tempo real e responder rapidamente antes que um ataque possa ser concluído", adverte o americano Alex Stamos, outro palestrante central do Mind The Sec. "Em redes corporativas, isso não precisa ter um grande impacto na privacidade pessoal, mas no caso de proteger grandes plataformas de consumidores ou nações inteiras, há um difícil equilíbrio entre proteger indivíduos de invasores e dos próprios protetores", explica.

"Se eu implementar uma política que impacta a produtividade do usuário, isso acaba não sendo viável, porque impacta o negócio", alerta Flavio Povoa, gerente de engenharia de sistemas da HPE Aruba Networking. "Eu preciso entender quem são esses usuários, com quem eles se comunicam, usar a IA para entender que tipo de dispositivo é esse e qual sua função na rede", acrescenta.

Em um mundo em que tudo parece estar sendo potencializado pela inteligência artificial e onde os smartphones abrem portas para os serviços que usamos e até para nossos dados mais íntimos, não há mais espaço para pessoas e empresas trataram a segurança digital de forma displicente. Precisamos entender que a mesma tecnologia que nos facilita imensamente o cotidiano também apresenta riscos consideráveis.

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Esse será o nosso cotidiano de agora em diante! O melhor que todos podem fazer é assumir e entender os riscos, criar mecanismos para se defender deles e estar preparado para encontrar saídas, caso o pior aconteça.

Ninguém está imune ao cibercrime! Quanto mais cedo aprendermos a lidar com ele, mas eficiente será a nossa resposta a esses novos desafios em nossas vidas.


Veja a íntegra em vídeo da entrevista com Paulo Baldin, CISO e CTO da Flipside:

Opinião por Paulo Silvestre

É jornalista, consultor e palestrante de customer experience, mídia, cultura e transformação digital. É professor da Universidade Mackenzie e da PUC–SP, e articulista do Estadão. Foi executivo na AOL, Editora Abril, Estadão, Saraiva e Samsung. Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP, é LinkedIn Top Voice desde 2016.

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