O bebê de menos de uma semana de vida que foi abandonado na tarde de sexta-feira, 28, na portaria de um prédio residencial de Brasília, passou a ter sua adoção disputada pelos moradores que o acudiram. A mãe da criança, Farlúcia Rodrigues da Silva, de 23 anos, foi localizada no sábado, 29, após a polícia analisar as fitas do circuito interno de vigilância do edifício e disse estar "arrependida" e querendo seu filho de volta. Em seu depoimento, a jovem - que trabalhava de babá numa quadra próxima ao prédio - disse que abandonou o bebê por não ter condições de criá-lo e porque o pai também não demonstrou disposição de ajudá-la financeiramente. Farlúcia relatou que , momentos depois de deixar a portaria do bloco I da quadra 302 Sul, ficou arrependida e chegou a voltar com o intuito de pegar a criança, mas desistiu ao verificar que vários moradores estavam em torno do bebê. As primeiras pessoas a verem o bebê foram a aposentada Eunice Elena da Silva, 61, e sua filha de criação Rosa Maria Ribeiro, de 40, que moram no bloco vizinho ao I. A primeira reação delas, ao ver a criança, foi pensar que se tratava de uma boneca. Quando perceberam que se tratava de uma criança de verdade, chamaram o porteiro do prédio, Lino Francisco dos Santos, de 63 anos. Duas mães no período de amamentação também foram chamadas para dar leite ao bebê, que chorava. Batizado de Renato pelos moradores, o menino foi atendido por uma médica da vizinhança, Patricya Tavares, e encaminhado no mesmo dia ao Hospital Regional da Asa Sul, onde foi hidratado e passa bem. De acordo com os médicos, o bebê ainda estava com o umbigo em processo de cicatrização no dia em que chegou ao hospital, pesava 3,5 quilos, media 46 centímetros e, pela aparência, deveria ter recém saído da maternidade. Segundo a delegada Martha Vargas, da 1ª Delegacia de Polícia de Brasília, a mãe não foi presa, mas será indiciada por abandono de incapaz. Caso seja condenada, a pena varia de seis meses a três anos de prisão. A Vara da Infância e da Juventude também terá de decidir se devolve a guarda da criança à mãe biológica ou se a concede para os interessados em adotá-la. Pelo menos três pessoas já manifestaram interesse em cuidar da criança: o porteiro Lino, primeiro da fila, e a dupla Eunice e Rosa. Os três já visitaram a criança no hospital e se comportam como se fossem os pais verdadeiros. "Agradeço a Deus que a tenha deixado na minha portaria", disse Lino. Farlúcia tentou provar seu arrependimento dizendo que telefonou, depois da repercussão do caso, para o Conselho Tutelar de Brasília para obter notícias do filho. "Se não tivesse me arrependido, não teria ligado", afirmou a um jornal de Brasília. Renato já recebeu alta, mas deve permanecer no hospital até esta segunda-feira, pelo menos, quando a Justiça deve decidir se o encaminha a um abrigo ou se concede a guarda.