Com o aumento da renda e a queda da desigualdade, 5,6 milhões de brasileiros deixaram a pobreza entre 2009 e 2011. Desse total, 2,5 milhões superaram a extrema pobreza. O cálculo, com base na Pnad de 2011, é de Samuel Franco e Andrezza Rosalém, pesquisadores do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade. A linha de pobreza média usada pelos pesquisadores (ela varia regionalmente) é de renda familiar per capita de R$ 220. A de extrema pobreza, que caracteriza insuficiência de renda para alimentação adequada, é de R$ 110. Entre 2009 e 2011, a proporção de brasileiros pobres caiu de 23,9% para 20,6%, e a de extremamente pobres, de 8,4% para 6,9%. Em 2001, a pobreza abrangia 38,7% dos brasileiros e a extrema pobreza atingia 17,4%. O rendimento médio do trabalho atingiu R$ 1.345 em setembro do ano passado (quando foram coletados os dados da Pnad 2011), num aumento de 8,3% em relação a 2009. Todas as regiões do País tiveram aumento da renda média do trabalho, com destaque para o Nordeste, com alta de 10,7%, para R$ 910, e para o Centro-Oeste, onde a elevação de 10,6% levou o rendimento médio para R$ 1.624, o maior do País. O aumento da renda, como vem ocorrendo desde 2004, deu-se de forma bem mais forte nas camadas inferiores da pirâmide social, o que proporcionou um forte recuo da desigualdade em 2011, na comparação com 2009. Dessa forma, a renda mensal do trabalho dos 10% mais pobres deu um salto de 29,2% entre 2009 e 2011, saindo de R$ 144 para R$ 186. Em termos anuais, é um ritmo chinês de crescimento, de 13,7%. Se for tomada a metade mais pobre dos trabalhadores, a renda mensal média em setembro de 2011 foi de R$ 508, 14,8% a mais que os R$ 443 de 2009 (com alta média anual de 7,1%). No outro extremo da pirâmide, os trabalhadores que fazem parte do grupo dos 10% mais ricos saíram de um rendimento médio de R$ 5.280 em 2009 para R$ 5.581 em 2011, numa evolução bem mais modesta de 5,7% - ou 2,8% ao ano. No grupo do 1% mais rico, a renda média do trabalho subiu de R$ 15.437 em 2009 para R$ 16.121 em 2011, num incremento de 4,4%, ou 2,2% ao ano. Segundo cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base na Pnad 2011, o índice de Gini da distribuição da renda familiar per capita saiu de 0,536 em 2009 para 0,526 em 2011. O índice de Gini é uma medida de desigualdade que varia teoricamente de zero a um e piora à medida que aumenta. O índice de Gini da desigualdade da renda do trabalho no Brasil caiu de 0,518 em 2009 para 0,501 em 2011. Marcelo Neri, presidente do Ipea, considera que a melhora em termos de trabalho, desigualdade e pobreza entre 2009 e 2011 é "mais do mesmo", referência aos avanços constantes desde o início da década passada. "Mas conseguir isso num momento de piora da economia global é melhor ainda", ele acrescenta. Segundo Neri, a "função bem-estar", que combina alta da renda e queda da desigualdade, deu um salto de 8,54% entre 2009 e 2011. Andressa Carla dos Santos, de 30 anos, está feliz e quer mais. Com a autoestima elevada e um carro na porta de casa, ela pretende concluir o curso de Administração e continuar apostando em sua qualificação profissional. "Minha visão de mundo mudou", avalia ela ao comparar a Andressa de alguns anos atrás, uma estressada caixa de supermercado, com a atual, empregada há dois anos na concessionária Rota dos Coqueiros, no município de Cabo de Santo Agostinho. Nos últimos anos, Andressa fez "mais de 10 cursos" de qualificação oferecidos pela empresa, foi promovida duas vezes e passou do salário de R$ 719 para R$ 1.300 mil. "Líquidos", frisa. A meta é crescer mais na companhia, que opera, por concessão, a Via Parque e a ponte Wilson Campos Júnior - primeira no Estado com cobrança de pedágio -, que dão acesso ao litoral sul pernambucano e ao complexo portuário de Suape. Andressa quer aproveitar o bom momento da economia em Pernambuco para continuar a realizar sonhos. / ANGELA LACERDA, DE RECIFE
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