A artilharia do governo sírio matou mais dezenas de pessoas nesta quinta-feira em Homs, segundo ativistas, enquanto o presidente Bashar al-Assad, estimulado pelo apoio russo, ignorou os apelos de líderes mundiais para que suspenda a carnificina. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, lamentou a "assustadora brutalidade" da repressão à rebelião popular, e o embaixador turco junto à União Europeia alertou para o risco de uma guerra civil que poderia inflamar todo o Oriente Médio. Diplomatas de potências ocidentais e árabes, marcando reuniões que podem prenunciar decisões em breve, condenaram Assad em termos fortes. Mas, tendo descartado uma intervenção militar, eles tentam buscar alguma outra forma de convencê-lo a parar. Enquanto isso, a Rússia, poderosa aliada de Damasco, disse que ninguém deve interferir nos assuntos do país. Em Homs, epicentro da rebelião iniciada há 11 meses como parte da chamada Primavera Árabe, testemunhas em sitiados redutos da oposição disseram que hospitais improvisados estão superlotados com os mortos e feridos de uma semana de bombardeios e disparos de francoatiradores. Há escassez de alimentos e suprimentos médicos, e nas ruas alguns feridos sangraram até morrer, pois não havia condições de segurança para a aproximação de socorristas. Os Comitês Locais de Coordenação, grupo oposicionista de Homs, estima que só na quinta-feira 110 pessoas tenham morrido até o anoitecer, mas é impossível verificar esses relatos. O grupo disse que entre os mortos há três famílias inteiras que ficaram soterradas em imóveis destruídos. Um médico que lutava para salvar os feridos levados para uma mesquita gravou um emocionado depoimento que foi colocado no YouTube. Nesse vídeo, o médico, identificado apenas como Mohammed, aparece ao lado de um corpo ensanguentado em uma mesa, e diz ao mundo: "Apelamos à comunidade internacional que nos ajude a transportar os feridos. Esperamos para que eles aqui morram nas mesquitas. Apelo à ONU e às organização humanitárias internacionais que parem os foguetes que estão sendo lançados contra nós". Os Estados Unidos disseram estar avaliando formas de levar alimentos e remédios aos civis de Homs -o que ampliaria o envolvimento internacional em um conflito que tem ampla dimensão geopolítica, e que causa uma divisão entre potências mundiais. No fim de semana, Rússia e China vetaram uma resolução do Conselho de Segurança sobre a Síria. "Temo que a assustadora brutalidade que estamos testemunhando em Homs, com armas pesadas disparando contra bairros civis, seja um sombrio presságio do que está por vir", disse Ban a jornalistas em Nova York. A Turquia, vizinha da Síria que já teve Assad como aliado, mas agora quer vê-lo pelas costas, disse que não pode mais se dar ao luxo de ser uma mera observadora, e que irá convocar uma reunião internacional para discutir formas de acabar a matança e enviar ajuda. Os chanceleres da Liga Árabe também voltam a discutir o assunto no domingo, no Cairo, Egito. (Reportagem adicional de Justyna Pawlak, Luke Baker e Sebastian Moffett, em Bruxelas; de Guy Faulconbridge, em Moscou; de Erika Solomon e Dominic Evans, em Beirute; e de Ayman Samir, no Cairo)
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