Mais magro e com semblante cansado, o psiquiatra Sabino Ferreira de Farias Neto, acusado de ter causado a morte do lutador de jiu-jítsu Ryan Gracie em dezembro, após dar a ele um coquetel de remédios, prestou depoimento à polícia baiana nesta terça-feira, 25, na sede da Polícia Civil, no Centro de Salvador, cidade em que mora há 15 dias. Segundo o diretor do Departamento de Polícia Interestadual (Polinter) da Bahia, Joelson Reis, o depoimento foi pedido pela 91ª Delegacia de São Paulo, onde corre o inquérito criminal, por meio de carta precatória. "Eles queriam mais detalhes sobre tudo o que ocorreu naquela noite em que o lutador morreu - e acho que conseguimos detalhar bem os acontecimentos." Natural de Salvador, Farias Neto chegou à sede da Polícia Civil baiana às 13 horas. Com ele, estavam dois advogados e um colega psiquiatra, Roberto Kalil, que o acompanha desde que chegou à capital baiana - segundo a assessoria do escritório de advocacia que defende o médico, ele está com sintomas de depressão. Ao fim do depoimento, Farias Neto não quis falar com a imprensa e delegou o papel ao advogado Sérgio Habib, um de seus defensores, apesar de não se afastar dele em nenhum momento. "Está demonstrado que meu cliente é inocente", afirmou Habib. "O laudo cadavérico de Ryan Gracie mostra que ele sofria uma cardiopatia isquêmica crônica da qual o psiquiatra só ficou sabendo quando foram divulgados os resultados, após a morte do lutador. O doutor Sabino foi pego de surpresa pela informação." De acordo com o delegado Joelson Reis, o depoimento também serviu para detalhar oficialmente os procedimentos adotados pelo médico na noite em que atendeu Ryan Gracie. Segundo Farias Neto, quando ele encontrou o lutador, na carceragem da 91ª DP - havia sido preso após roubar um carro e tentar roubar uma moto -, viu que ele estava "muito alterado", mas resolveu não medicá-lo antes que fosse feito o exame toxicológico em Gracie, no Instituto Médico Legal (IML). Ainda segundo o psiquiatra, com os resultados em mãos, ele passou a administrar os remédios no próprio IML e não na carceragem, como se acreditava. Deacordo com Habib, foram dados ao lutador, pela ordem, três ampolas de Haldol Deacnoato, duas de Fenergan, dois comprimidos de Topomax, outros dois de Fenergan, um de Leponex e dois de Dienpax 10 mg. "Os medicamentos foram ministrados em um padrão que o médico, que tem 30 anos de experiência em casos assim, considerou que se fazia necessário naquele momento", diz Habib. "Qualquer médico gabaritado faria o que ele fez em uma situação emergencial - ou seja, a nosso ver, qualquer médico poderia estar passando pelo que o doutor Sabino está passando agora." Ainda segundo Habib, o advogado está morando em um apartamento do bairro nobre da Vitória e deve permanecer em Salvador pelo menos pelos próximos 15 dias.