O cinza do concreto que separa os trilhos do metrô no Rio de bairros da zona norte do Rio ganharam outras cores, formas e traços e transformaram as estações em uma mostra de arte urbana ao ar livre. Com painéis que retratam a história e a cultura dos bairros, a Copa Graffiti promove a valorização das regiões no entorno de 15 estações da linha 2 do metrô. Os artistas, grafiteiros de diferentes coletivos do Rio, competem pelo prêmio de R$ 20 mil.As criações nos mais de 5.400 metros quadrados de muros retratam referências das migrações de nordestinos e a ocupação no bairro de São Cristóvão, a cultura popular do subúrbio e as raízes indígenas do Irajá. Em alguns bairros, a iniciativa destaca personalidades históricas e personagens comuns das comunidades, como feirantes e catadores de material reciclável. As histórias foram contadas pelos moradores, que atuaram como monitores das equipes.O artista Marcio Ribeiro, conhecido como Pia FBC, foi um dos responsáveis pelo painel na estação de Irajá. No grafite, uma cascata de mel lembra a origem do nome Irajá, que significa `de onde brota o mel''. No século XVII, os índios tupinambás que trabalhavam nos engenhos não conheciam o açúcar e deram o nome em comparação ao mel. Também a produção de frutas que abastecia a cidade no passado e outras construções históricas do bairro foram retratadas no painel."É importante para os moradores conhecerem a história e verem o quanto o bairro se transformou. Hoje ele tá favelizado, mas esse é um primeiro passo para a pessoa querer mudar", afirmou o artista, que em uma semana completou o mural junto com companheiros dos coletivos FleshBeck Crew e do Santa Crew. A proposta da concessionária MetrôRio, que realiza a Copa Graffiti, é valorizar o espaço público das comunidades, constantemente alvo de depredação. "A pichação é uma forma de expressão que depreda. Decidimos mostrar que o grafite pode ser essa expressão como arte, que leva cultura, história e cidadania para as comunidades", avalia Eliza Santos, gerente de Marketing da concessionária.A competição também promoveu oficinas com 120 estudantes de quatro escolas públicas no entorno da linha férrea. Ao todo, as quinze equipes consumiram cerca de nove mil latas de tinta spray e outros 60 galões de 18 litros de tintas. As criações foram finalizadas nesta quarta-feira (31), e os ganhadores da competição serão anunciados no dia 12. Um júri técnico analisará as obras, mas a votação vai considerar ainda opinião do público e dos moradores, pela internet.Nas ruas, os moradores já demonstram a torcida pelos murais que refletem as histórias e a identidade dos seus bairros. "A interação superou as minhas expectativas. Imaginei que as pessoas apenas olhariam o mural, mas elas se interessaram em saber mais sobre as histórias, tiravam fotos e gritavam `já ganhou!''", relembra Pia FBC. "Isso é que paga o trabalho."