Depois de anos investindo em carros populares, a indústria brasileira de automóveis passará por uma transformação nos próximos anos, com modelos mais sofisticados e apostas no segmento de luxo, em um momento em que o país se consolida como o quarto maior mercado de veículos do mundo. Nesta segunda-feira, a fabricante alemã de carros de luxo BMW confirmou ao governo que vai construir uma fábrica no Brasil e a Honda anunciou que vai vender veículos Acura no país a partir de 2015 -- no primeiro mercado latino-americano a receber a marca de luxo da montadora japonesa. A Honda também voltará a vender o sedã Accord no país. Na semana passada, a britânica Rolls-Royce anunciou a abertura de sua primeira loja no país, oferecendo um modelo, Ghost, com preço a partir de 2,3 milhões de reais. Além disso, a General Motors avalia vender no Brasil veículos Cadillac, enquanto a Mercedes-Benz deve decidir até meados do próximo ano se produzirá modelos de sua linha compacta no país. Já a Toyota trouxe a Lexus pela primeira vez com um estande próprio no Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, que começou nesta semana. A Citroen, do grupo PSA Peugeot Citroen, anunciou no salão expansão de sua linha "premium" DS, com os modelos DS4 e DS5 e a Fiat mostrou novas versões do compacto 500 recheado de itens de conforto, incluindo um modelo conversível que venderá no Brasil. A Ford exibiu nova versão global do sedã Fusion e a Nissan divulgou que comercializará no país o sedã Altima. "Existe um segmento de luxo que está crescendo (…) Os ricos estão ficando mais ricos", disse o presidente da GM para América do Sul, Jaime Ardila. "É momento de se pensar no mercado brasileiro." As movimentações ocorrem em meio à regulamentação do novo regime automotivo do Brasil, válido entre 2013 e 2017. O regime exige investimentos de bilhões de reais adicionais em pesquisa, desenvolvimento e engenharia, além de uso de maior nível de componentes regionais, num momento em que o aumento da renda no país e a disponibilidade de uma série de modelos importados leva os consumidores demandarem melhores produtos das montadoras instaladas no Brasil. As apostas na sofisticação do mercado ocorrem também com a indústria de olho na perspectiva de crescimento das vendas no Brasil, que devem passar de cerca de 3,8 milhões de veículos em 2012 para 6 milhões em 2020. "Com o novo regime, precisaremos ter uma fábrica no Brasil", disse o vice-presidente de vendas da Mercedes-Benz no país, Joachim Maier. Por enquanto, a marca alemã avalia produzir modelos de sua linha de compactos, formada por cinco veículos. "Provavelmente sim, (faremos) dois deles no Brasil", disse o executivo, citando como possibilidade uma parceria de produção com a aliada Renault-Nissan, que está ampliando capacidade no país. Se em anos anteriores a mostra de São Paulo se concentrou em modelos populares, a edição deste ano trouxe como tendência o aumento da sofisticação de modelos, numa antecipação às regras do novo regime automotivo. GM, Ford, Hyundai, Volkswagen, Renault mostraram veículos com consumo de combustível mais eficiente e com itens de conforto, como sistemas multimídia, que antes eram vistos apenas em modelos mais caros. A Ford fez estreia mundial da versão sedã do compacto Fiesta no salão, que começará a ser vendido em 2013, e prometeu para 2015 nova versão do Focus. A Volkswagen exibiu o jipinho conceito Taigun, modelo com motor 1.0 turbinado, que foi desenvolvido "com foco no Brasil", segundo o presidente mundial da montadora alemã, Martin Winterkorn, e pode colocar a marca em concorrência direta com o Ford Ecosport e com o Renault Duster, no segmento de utilitários compactos. Enquanto isso, a GM aproveitou para revelar globalmente no salão o compacto Onix, equipado com central multimídia e câmbio automático, novidades no segmento, e a Renault apresentou nova versão do Clio com motor que promete autonomia de 15,8 quilômetros por litro. A Hyundai anunciou a chegada em janeiro da versão crossover de seu primeiro compacto HB20, o HB20X, e de um sedã derivado do modelo para março.