A devoção ao Evangelho une duas centenas de prisioneiros e 30 guardas em uma igreja transformada em prisão. São as cenas fortes do documentário Unidade 25, dirigido pelo argentino Alejo Hojiman, que abrem hoje a 4ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, no CineSesc, festival que projeta em primeiro plano a questão da dignidade humana.Até domingo, serão exibidos 39 filmes de dez países sul-americanos, com destaque para aqueles dirigidos por pesos pesados nacionais, como Garapa, do premiado José Padilha, e À Margem do Lixo, nova investigação de Evaldo Mocarzel. O primeiro acompanha a terrível trajetória de uma família que vive na zona rural do Ceará e, para enganar o estômago, sobrevive à base de uma prosaica mistura de água morna e açúcar. Já o segundo acompanha a rotina de vida dos catadores de papel e materiais recicláveis na cidade de São Paulo. Com esse filme, Mocarzel acrescenta a terceira parte de uma tetralogia iniciada com À Margem da Imagem e À Margem do Concreto.Além dos consagrados, a mostra é também um manancial para boas descobertas. Como o já falado Unidade 25: o filme acompanha a transferência do jovem Simón Pedro para a tal penitenciária, a única que funciona como igreja na América Latina. Lá, o ambiente é limpo e as pessoas se respeitam. O custo, no entanto, é espiritual: os encarcerados são obrigados a se converterem ao mais fundamentalista dos evangelismos através de uma extenuante doutrinação religiosa. Ou seja, transformam-se em prisioneiros espirituais. Outra curiosidade é revelada pelo curta Menino Aranha, dirigido por Mariana Lacerda, cujas imagens do alto de prédios recuperam uma lenda urbana real que aconteceu em Recife, Pernambuco, no fim da década de 1990.E a mostra não conta apenas com trabalhos de diretores latinos - o longa Histórias de Direitos Humanos apresenta 22 episódios de três minutos cada, assinados pelo argentino Pablo Trapero (do longa Bonaerense), o chinês Jia Zhang Ke (Still Life), o tailandês Apichatpong Weerasethakul (Tropical Malady) e o realizador de Burkina Faso Idrissa Ouédraogo (África, Minha África), além da dupla brasileira Walter Salles e Daniela Thomas.O filme integra a lista dos programas especiais, que conta ainda com O Cavaleiro Negro, de Ulf Hultberg e Åsa Faringer, uma produção baseada na história real do embaixador sueco no Chile Harald Edelstam que, durante o golpe militar de 1973, salvou centenas de pessoas da prisão e tortura conseguindo asilo para todas na Suécia.A falta de respeito aos direitos humanos inspira uma série de longas programados para o festival, como Esse Homem Vai Morrer: Um Faroeste Caboclo, documentário em que Emílio Gallo o triste destino de quatorze homens que, atraídos pela possibilidade de riqueza oferecida pela região do Rio Maria, no Pará, acabaram morrendo. Ou ainda os abusos do poder da Justiça, capaz de condenar uma pessoa a dois anos de prisão por um crime banal, como o furto de um frasco de perfume - tema do documentário Bagatela - A Necessidade Tem Cara de Cachorro, do colombiano Jorge Caballero.Além de São Paulo, a 4ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul é exibida em outras 15 capitais brasileiras. Serviço 4.ª Mostra de Direitos Humanos na América do Sul Cinesesc (326 lug.). R. Augusta, 2.075, 3087-0516. Grátis. Cinemateca Brasileira (110 lug.). Largo Senador Raul Cardoso, 207, tel. 3512-6111. Grátis. Até 11/10Programação: www.cinedireitoshumanos.org.br