O Ministério Público Federal (MPF) em Sorocaba (SP) determinou que a Polícia Federal (PF) também entre na investigação do furto de uma imagem de Nossa Senhora do Carmo ocorrido na semana passada, em São Roque. De acordo com o MPF, a peça é reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro pelo Ministério da Cultura. A imagem, do século 18, foi levada da igrejinha do Quilombo do Carmo, na zona rural do município.Os autores do furto arrombaram uma porta para entrar na igreja. O manto que recobria a imagem foi jogado numa rua, na área urbana de São Roque, e entregue à polícia por moradores. A Polícia Civil investiga o crime, mas ainda não chegou à autoria.De acordo com o procurador da República Rubens José de Calasans Neto, a imagem tem três séculos, possui alto valor no mercado de colecionadores e "valor religioso inestimável para a comunidade quilombola, que se estrutura em torno de um calendário anual de festas dedicadas aos santos". Ele lembra que, segundo os fiéis, a santa é a proprietária das terras que eles ocupam e reivindicam a regularização, segundo avaliação da equipe de perícia antropológica do MPF.Ainda de acordo com o procurador, a comunidade possui documentos do período colonial para comprovar que recebeu da Igreja Católica a doação de uma área de 470 alqueires, hoje reduzida a menos de 1%. Uma ação do MPF visando ao reconhecimento da comunidade sobre as terras foi julgada procedente em outubro do ano passado.Segundo nota da Fundação Cultural Palmares, o furto da imagem da santa, um dos principais símbolos da comunidade, pode ter sido "um aviso aos quilombolas devido à organização política para o reconhecimento de seus direitos". Na tentativa de ajudar na localização e prevenir possíveis adquirentes, o MPF divulgou em seu site uma foto da imagem furtada.
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