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Músicos voltam em fase ''relaxada''

Acompanhado da família e adepto da ioga, grupo se espelha em ídolos antigos para continuar na estrada por muitos anos

EM BUENOS AIRES -

Fraldas no camarim

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A chuva que castiga São Paulo por todo mês de janeiro vai ter a companhia de um vulcão em erupção neste fim de semana. Assim que os primeiros acordes de Creeping Death ecoarem no Estádio do Morumbi, a maior banda de heavy metal do mundo despertará para o primeiro dos dois shows marcados para São Paulo da World Magnetic Tour. Mais de 100 milhões de discos vendidos depois, os 11 anos que separam a última passagem do Metallica pelo Brasil escancaram uma mudança de comportamento cristalino, tanto em entrevistas, como na forma de cada integrante encarar a vida dentro e fora dos palcos.

Antes do concerto que a banda realizou em Buenos Aires na sexta-feira passada, o guitarrista Kirk Hammett recebeu o Estado nos camarins do Estádio Monumental Nuñez e falou sobre o atual humor das quatro partes que formam o Metallica - além de Kirk, James Hetfield (vocal e guitarra), Lars Ulrich (bateria) e Robert Trujillo (baixo): "Todos passamos pelas mesmas experiências, temos famílias, somos pais. Hoje, nosso maior desafio é ser ao mesmo tempo bons pais e rockstars que têm de viajar pelo mundo." Kirk tem dois meninos e durante toda conversa, sempre que pôde, colocou o assunto criança na pauta. "Turnês são os únicos momentos que posso testar novas guitarras e efeitos. Em casa, meus filhos estão sempre pedindo para eu abaixar o volume."

O quarteto montou seu QG latino-americano em Buenos Aires, cidade da mulher de James Hetfield, Francesca Tomasi. Já Lars veio com a mulher e o filho mais novo. Mais do que a presença da família, a atitude dos músicos pouco lembra os clichês de uma banda de rock pesado. Nos camarins, onde antes era possível chafurdar em "toneladas de bebidas, comida, sprays, maquiagem e loções hidratantes para as groupies que tomavam banho depois dos shows", segundo Kirk, hoje é possível esbarrar em fraldas, brinquedos, desenhos da Disney, vitaminas e um professor de ioga. "Antes de entrar no palco ouço jazz e bossa nova."

Na entrevista coletiva que antecedeu a apresentação na capital argentina, o baixista Rob Trujillo contou como cada integrante do Metallica gasta seu tempo fora dos palcos: "Treinamos muito. O Lars corre todos os dias. Kirk faz Ioga e surfa e eu faço exercícios com o James e sua esposa."

A rotina de exercícios é necessária. Nos últimos 10 anos, segundo a Billboard, a banda fez 406 aparições ao vivo. As apresentações vieram entrelaçadas com problemas de ordem jurídica e emocional. Em 2000, Lars Ulrich entrou em guerra contra a pirataria digital, na época representada pelo Napster. Hoje, quando fala de internet, ainda soa rancoroso. "Não tenho ocupado a minha mente com isso, mas temos que educar a nova geração de 8, 9 anos sobre o mal da pirataria. Se eles não souberem a consequência dos seus atos nunca vão ser responsáveis." Quando questionado sobre as críticas que recebe pela rede, respondeu: "A internet possibilita a pessoas anônimas a falarem um monte de merda."

Golpe mais agudo veio com a quase dissolução da banda em 2003. A saída do baixista Jason Newsted, uma crise de criatividade e os problemas de alcoolismo de James potencializaram um cenário devastador. Um psicólogo foi convocado e um documentário filmado, Some Kind of Monster (2004), levou as mazelas de uma banda em frangalhos às telas de todo mundo. "As coisas estavam muito ruim com o Jason. Não sabíamos como lidar com aquilo e quase acabamos. Mas não gostei nada de que nossas roupas sujas foram lavadas em público", lembrou Kirk. "Eu sou um cara quieto, gosto de ficar sozinho, sou uma espécie de outsider. Um filme daquele vai contra as minhas crenças." O resultado da terapia, ao menos, foram positivos. Kirk diz que o grupo nunca esteve tão afiado, o segredo: Robert Trujillo. "Com o Rob na América Latina é outra experiência. Ele tem uma mãe mexicana e as pessoas se identificam com ele. Rob é uma fonte de inspiração e muito melhor do que Jason."

As boas vibrações são parte do lançamento de Death Magnetic, disco lançado em 2008 - após o fracassado St. Anger (2003) -, que levou novamente a banda aos topos da parada. "É um álbum muito energético e uma grande Polaroid de nós como grupo agora", afirmou Kirk. As comemorações continuarão nos quatro shows em junho na Europa chamados de The Big Four, onde Metallica, Slayer, Megadeth e Anthrax estarão tocando pela primeira vez juntos. James explicou como os papas do thrash metal se uniram: "Depois de gravar um CD como Death Magnetic e entrar no Rock"n"Roll Hall of Fame muitas histórias antigas vieram à cabeça. A Bay Area (local na Costa Oeste dos Estados Unidos onde surgiram as bandas) foi muito importante para nós e resolvemos celebrar os sobreviventes. Estamos vivos e muito fortes." Aqui no Brasil, é o Sepultura quem ciceroneia o Metallica depois de prometer nunca mais abrir para os americanos após o concerto de 1999. O Sepultura alega que foi boicotado naquela data, pois teve seu volume abaixado.

Quanto ao futuro, James se espelha em seus ídolos: "Olhamos as outras bandas, como o Rolling Stones, o Lemmy do Motörhead, e eles continuam tocando no mesmo nível e intensidade. Angus Young é um atleta. Enquanto eles estiverem aí, temos que segui-los."

O Repertório

Creeping Death

For Whom the Bells Tolls

Wherever I May Roam

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Harvester of Sorrow

Fade To Black

That Was Just Your Life

The End of the Line

Sad But True

Cyanide

All Nightmare Long

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One

Master of Puppets

Blackened

Nothing Else Matters

Enter Sandman

Last Caress/Green Hell

Whiplash

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Seek & Destroy

Baseado no 1.º show de Buenos Aires no dia 21 de janeiro

Preste Atenção...

...no fato de a banda nunca repetir o mesmo setlist dois dias seguidos.

...no início do show, sempre antecedido por imagens do filme O Bom, o Mau e o Feio com a música de Ennio Morricone The Ecstasy of Gold.

...no arsenal de guitarras de Kirk Hammett, a maioria delas com motivos estampados que remetem aos filmes sci-fi e de monstros.

...nos fogos atirados aos montes em canções como One e Blackened, as duas do álbum de 1989 ...And Justice for All.

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...no foco da câmera em James Hetfield, antes de Enter Sandman: é mostrada sua palheta personalizada para a turnê no enorme telão. M.B.

As Passagens Pelo Brasil

1989: Prestes a se tornar a maior banda do mundo, o Metallica veio pela primeira vez ao País para surpresa dos fãs com o cativante ...And Justice for All. Os dois shows no Ginásio do Ibirapuera, em outubro de 1989, trouxeram o baixista Jason Newsted, debutando na banda em turnês.

1993: O mundo estava dominado com o lançamento do Black Album (1991) e suas mais de 52 milhões de cópias vendidas. Em maio de 1993, o grupo tocou para um Parque Antártica lotado que queria ouvir músicas como Enter Sandman, The Unforgiven e Nothing Else Matters.

1999: Em crise criativa, o Metallica viria pela terceira vez ao País amparado pelo fraco ReLoad e pelo álbum de versões Garage Inc. para tocar no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo. A banda ainda marcaria shows no Brasil em 2003, mas os cancelou às vésperas das apresentações.

Serviço

Metallica. Morumbi. Pça. Roberto G. Pedrosa, tel. 4003-8282. Amanhã, 21h30 (ing. esgotados); dom, 20h30. R$ 150/500. 12 anos

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