É uma ironia que a região metropolitana com o desemprego mais alto dos Estados Unidos se localize em uma depressão - no sentido geográfico. Mas quem chega a El Centro, na Califórnia, pela rodovia 8 que sai de San Diego, não se depara com a penúria que a má fama da cidade sugere. Como em um oásis, as árvores adornam as regiões mais agradáveis de El Centro, embora ninguém caminhe nas calçadas sob o sol de quase 40º C. Apenas um ou outro trator percorre de cima a baixo as lavouras que, em época de colheita, abrigariam um número maior de trabalhadores. Nesses meses, o desemprego em El Centro se aproxima de 30% da população economicamente ativa. "Nosso maior nível de desemprego é durante o verão, quando o calor é insuportável para trabalhar do lado de fora", explica Francisco Márquez, diretor do centro de recrutamento Workforce Partnership, do condado de Imperial. "O setor agrícola é altamente impactado por três ou quatro meses. Além disso, temos uma grande fronteira com o México. Muitas pessoas trabalham aqui, recolhem o seguro-desemprego e vivem no sul da fronteira, onde o custo de vida é menor", diz. "Muitos só trabalham sazonalmente", acrescenta. Mudanças A economia local passa por um rápido processo de mudança. Primeiro, veio a mecanização da colheita. Em seguida, a concorrência com produtos mais baratos produzidos em outras partes do mundo prejudicou a competitividade local. Muitos fazendeiros abandonaram colheitas que requerem mão de obra intensiva. "Não vemos tanto algodão como antes e muitos legumes não são produzidos na escala em que eram antes", diz Márquez. Desde a crise financeira, um processo de concentração e consolidação de produtores agrícolas levou as empresas para o sul da fronteira, para o Arizona - que fica a menos de 100 quilômetros de distância - ou para outros vales dentro da própria Califórnia. Como resultado, em 2006, a média anual de desemprego em El Centro era de 15,4%. No ano passado, ficou em 29%. Contraste O declínio contrasta com a situação a menos de 200 quilômetros dali, no verde vale de Mesa, nos arredores de San Diego. Aqui, empresas de tecnologia, hospitais e a Universidade da Califórnia estão entre as líderes em contratação no condado. Mas a demanda é por um tipo de trabalhador muito mais qualificado. Na gigante de tecnologia Qualcomm, por exemplo - que não parou de contratar nem durante o auge da crise econômica, e tem atualmente mil vagas sendo oferecidas para candidatos externos - a procura é principalmente por engenheiros. "Investimos muito em pesquisa e desenvolvimento, e uma boa parte disso é para tecnologia que só vai estar disponível no futuro. Então não podemos tirar o pé do acelerador", resumiu o vice-presidente de Comunicações da empresa, Dan Novak. "Precisamos investir, e pessoal é nosso maior objeto de investimento." A taxa de desocupação em San Diego foi de 9% em agosto - acima da taxa nacional, que estava em 8,1% naquele mês, mas abaixo da média californiana, de 10,6% no mesmo período. A Califórnia ainda está longe de recriar as 3 milhões de vagas que desapareceram com o crunch. Mas é um dos Estados que se recuperam mais rapidamente da crise. Pegando onda É nessa onda que locais menos dinâmicos do Estado pretendem surfar. De volta a El Centro, Francisco Márquez diz que um projeto voltado à região sul da Califórnia e ao vizinho Estado mexicano de Baja Califórnia mapeou as indústrias e os recursos que podem ser usados para a produção econômica Ele explica que a região vai "unir forças" e assim se tornar mais atrativa para empresas. Algumas companhias "visionárias" já manifestaram intenção de investir em energia - eólica e de biomassa - no condado de Imperial, diz. "Todos vamos nos beneficiar: se elas (as empresas) forem para o México, se San Diego puder fazer a pesquisa, e nós fizermos a distribuição ou o processamento, todos nos beneficiamos", acrescenta. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.