A ofensiva de Donald Trump sobre o Canadá já está custando caro para o turismo dos Estados Unidos. Canadenses têm cancelado suas viagens marcadas para destinos americanos, como mostram várias reportagens da Canadian Broadcasting Corporation (CBC), rede nacional de televisão. Há 10 dias, a U.S. Travel Association, que representa o setor no país vizinho, já havia divulgado sua preocupação com essa possibilidade.
Até pela proximidade, o Canadá é o país que mais envia viajantes estrangeiros para os Estados Unidos. Em 2024, o setor de turismo americano registrou 20,4 milhões de visitas de canadenses. De acordo com estimativa da U.S. Travel Association, uma redução de 10% nos turistas do Canadá representa menos 2 milhões de visitas e US$ 2,1 bilhões de perda. Isso afeta especialmente os estados da Flórida, da Califórnia, de Nevada, de New York e do Texas.

Os canadenses chegam aos destinos americanos de avião e por viagens terrestres, já a maior parte dos habitantes de lá vive perto da fronteira com os Estados Unidos. Por exemplo, minha irmã, Carla, moradora da região de Montréal, já foi a Boston de carro com amigas de Québec para passar um fim de semana. Dá um percurso de umas 5 horas até a capital de Massachusetts.
Boicote aos Estados Unidos
Por causa da Carla, eu sabia que vinha rolando um amplo movimento no país para priorizar produtos nacionais e boicotar o que seja dos Estados Unidos. A política do novo presidente americano está engasgada na goela dos canadenses. Da história de fazer do Canadá mais um estado americano à tarifa de 25% para as exportações rumo ao sul, tudo o que Trump anuncia afeta diretamente a vida da população.
Em família, ao lado dos momentos de assunto sério sobre os efeitos da política internacional dos Estados Unidos, os devaneios do presidente americano dão munição para as piadas nos telefonemas. Carla reclama da neve e dos 20 graus negativos de temperatura no Canadá, e logo escuta: "Aproveita para pegar sol na Flórida, agora que você vai ser americana".
Por enquanto, a taxação sobre a importação de produtos canadenses em geral foi adiada, mas nesta segunda o presidente americano impôs os mesmos 25% sobre aço e alumínio. O Brasil também foi afetado pelo tarifaço da semana; é o segundo país que mais exporta aço para os Estados Unidos. O primeiro? O Canadá.
Juntando a parte econômica com a pauta comportamental -- Trump acabou com as políticas de diversidade no governo e está levando diversas companhias a fazerem o mesmo --, nada parece animar os canadenses a irem aos Estados Unidos. Os casos mostrados nas reportagens da CBC incluem gente que juntou dinheiro anos para fazer uma road trip na Califórnia e até que já tinha dado a parcela de entrada na viagem. Todos desistiram.
Economia e política do destino
Tudo isso me fez lembrar que conheço quem não viaje para um país por discordar de sua postura internacional. Com ou sem Trump, os Estados Unidos estão fora dos planos de algumas pessoas. Elas não passam por lá nem para uma conexão em aeroporto.

Sempre penso se eu desistiria de ir a algum lugar por não concordar com a postura do país. Posso dizer claramente que tenho medo de lugares onde as mulheres são oprimidas. E você, deixa de viajar para um lugar por causa da cultura local, de aspectos econômicos ou da política internacional? Quando escolhe um destino, busca compreender como ele se relaciona com seus habitantes e com o resto do planeta? Me segue lá no @ComoViaja e me manda uma mensagem contando.
QUEM FAZ
Nathalia Molina viaja desde os 5 anos, adora café da manhã e aprecia um bom serviço no turismo. Essencialmente urbana, também tem seus dias de paisagem natural. É jornalista de viagem há 20 anos e ganhou 4 vezes o prêmio da Comissão Europeia de Turismo. Em 2011, criou o Como Viaja: acompanhe no Instagram @ComoViaja e em comoviaja.com.br