Casos de candidatos que se sentiram prejudicados pela nota na redação do Enem são inúmeros em todo o Brasil. Uma redação anulada elimina qualquer possibilidade de ingresso no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que reúne as vagas oferecidas por instituições federais do País, enquanto uma nota baixa diminui muito a chance de conseguir ingresso em cursos mais concorridos.
Luiz Borges Gomide do Nascimento, de 31 anos, cursa licenciatura em Matemática em Araraquara, no interior de São Paulo. Ele ingressou no Instituto Federal utilizando sua nota no Enem, no ano passado, mas afirma acreditar que tenha perdido um ano de estudos por causa de um possível erro na correção de sua redação, que foi anulada no exame de 2010.
"Os motivos de anulação que aparecem no edital são rasura e problemas de identificação, e eu não fiz nada do tipo. Não sei o que foi encontrado que possa ter anulado pelo texto", afirma. "À época, minha média (excetuando a redação) ficou próxima à do ano passado. Se não tivesse tido minha redação anulada, provavelmente eu teria sido aprovado ainda em 2010."
Em Belo Horizonte, a assistente administrativa Noemia Damazio, de 62 anos, viu o seu sonho de ingressar no curso de Direito esbarrar na anulação de sua redação no Enem 2011. "Foi terrível", resume ela. "Eu fiz a redação e levei o rascunho para o meu professor ler e avaliar. Ele me disse que eu tiraria entre 7 e 8,5 (700 a 850). Quando vi, havia tirado um zero", conta.
Noemia estava entre os 129 candidatos que tiveram a nota de redação corrigida pelo MEC por "erro material" em 2011, como revelou o Estado em janeiro deste ano. De anulada, sua nota passou para 420. "Mas aí já tinha encerrado o prazo do Sisu, não tive tempo para concorrer a nada", relata.
Ela pretende fazer o Enem novamente neste ano, mas diz esperar por mudanças. "Espero que ao menos a redação corrigida seja colocada à disposição da pessoa. O Ministério da Educação tem de levar isso a sério. Eu fiquei chocada com a nota zero. Chorei, foi uma frustração. Fui muito prejudicada."
Já em Porto Alegre, Bianca Niemezewski Silveira, de 20 anos, considera que teve a nota da sua redação subavaliada. Ela prestou o Enem com o objetivo de concorrer a uma vaga em Medicina na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), cujo ingresso se dá exclusivamente pelo Sisu.
No dia seguinte à prova, Bianca levou sua redação para a análise de quatro professores. Todos avaliaram que ela alcançaria em torno de 900 pontos. Tirou 680.
"Fiz várias ligações para o MEC, queria saber com quem eu poderia falar, mas é aquela sensação de entrar em uma ruazinha e ver que não tem saída", diz. Ela diz que pensou em acionar a Justiça para ter acesso à prova, mas desistiu da ideia por causa dos custos que teria com advogado.
Cursando Medicina na PUC-RS graças ao financiamento estudantil, a estudante pretende fazer o Enem novamente neste ano. "Com o financiamento, terei uma dívida de R$ 260 mil para pagar depois que me formar. Vou fazer o Enem e tentar novamente uma vaga em uma federal."
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