Nos bastidores do mercado financeiro, uma das explicações para a demora da Moody"s em conceder o grau de investimento ao Brasil seria a pressão do governo Lula. A agência não gostaria de deixar transparecer que estava atendendo a pedidos de autoridades brasileiras. A justificativa não cola, porque esse tipo de pressão é comum em vários países e envolve todas as agências. O fato é que a Moody"s chegou atrasada e ponto. Em abril e maio do ano passado, respectivamente, a Standard & Poor"s (S&P) e a Fitch, as duas principais concorrentes da Moody"s, já enxergavam a melhora das condições de solvência do Brasil, que justificava a promoção do rating a grau de investimento. Ambas não precisaram esperar que o País passasse bem pela grave crise internacional para conceder o selo de qualidade. Agora, dizem os críticos (com razão), ficou fácil. É por equívocos de análise como esse da Moody"s que as agências de classificação de risco vêm, ano a ano, perdendo credibilidade no mercado global. Elas foram responsabilizadas por grande parte da crise atual, ao considerar livres de risco ativos que se mostraram podres - é por isso que serão mais reguladas daqui para a frente. Na crise da Ásia, não enxergaram a deterioração das contas fiscais e/ou externas de muitos países. Deu no que deu.Isso não significa, claro, que elas tenham se tornado irrelevantes. Investidores ainda olham para um rating antes de tomar decisões, sobretudo em um mundo globalizado no qual um empresário bem-sucedido do Leste Europeu pode aplicar suas economias em títulos públicos brasileiros ou em ações da Petrobrás. Muitos fundos de investimento e de pensão - os grandes "players" do mercado global - não podem investir recursos em ativos que não sejam considerados grau de investimento por ao menos duas das principais agências. Até nisso, aliás, a Moody"s chegou atrasada. Quem esperava essa chancela para investir no Brasil, já o fez.
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