Nova TV Brasil gera ódios, paixões e disputa por publicidade

PUBLICIDADE

Por CARMEN MUNARI
2 min de leitura

A criação da TV Brasil, televisão pública surgida em outubro por ato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atraiu paixões e ódios. A oposição questiona a necessidade da rede, critica os gastos previstos e promete dificultar a aprovação da medida no Congresso. Representantes da área televisiva pública aplaudem a iniciativa, enquanto as TVs comerciais se preocupam com possível perda de publicidade. A cobrança geral é pelo controle social da nova TV. "É um despropósito. Que interesse pode ter um governo ao criar uma TV que não o político? Por que gastaria dinheiro para conquistar audiência?", questiona o senador José Agripino Maia (RN), líder dos Democratas, para quem a iniciativa demonstra sobra de recursos orçamentários. Ele prevê dificuldade na aprovação da medida no Congresso. Para o senador Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB, o caminho é alterar a medida provisória que instituiu a TV e está em tramitação no Congresso. "A preocupação é com o uso futuro. Por isso, queremos incluir na MP a possibilidade de crime de responsabilidade se houver manipulação da TV pública", disse. Um integrante de uma das TVs estaduais que não quis ter seu nome divulgado revela uma das principais preocupações em torno da nova rede: "A TV não pode ser definida no gabinete do Franklin Martins". Ele se refere ao chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, à qual a TV Brasil está vinculada. Um analista pondera que os governos tentam interferir em todas as TVs, sejam públicas ou privadas. "Há relações carnais entre TV privada e poder", disse Gabriel Priolli, jornalista e presidente da Associação Brasileira de Televisão Universitária (ABTU). Do lado comercial, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert), que reúne 320 emissoras privadas, acredita que a rede pública será complementar ao sistema privado, mas quer impedir que a TV Brasil tenha financiamento via mercado publicitário. "Não se trata de preocupação com a competição que ela pode representar. A questão é conceitual. Ou ela é sustentada por verbas orçamentárias (da União) ou por recursos publicitários. Os dois não é possível", disse Daniel Pimentel Slaviero, presidente da Abert. A associação já conversou com Franklin Martins, e tem sentido boa receptividade por parte do ministro. Os congressistas também já foram contatados. ELEVANDO O PADRÃO De outro lado, especialistas vêem aprimoramento das TVs públicas com a chegada da nova emissora. Longe de ser uma novidade, o campo público da TV no Brasil engloba cerca de 180 emissoras abertas ou transmitidas pela TV paga (estaduais, comunitárias, legislativas). "Com a TV do governo federal, deve haver aumento geral do interesse pela TV pública, com crescimento de audiência. Terá recursos para fazer uma boa programação, e o objetivo não é prejudicar as TVs comerciais", disse Priolli. Para Fernando Paulino, jornalista e professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, "a nova TV pública pode levar a uma melhora também no padrão da TV comercial, se fizer programas que tenham audiência". O analista prevê que debates em torno de temas-tabu na TV comercial podem provocar a concorrência. Ele cita questões como gays, drogas e aborto. Na disputa com as TVs comerciais, Priolli aposta no contraponto da ética e da seriedade na atuação das públicas e prevê que o jornalismo não será elemento de grande atração ("de qualidade, mas normal"). Documentários e filmes devem ser mais atrativos. Convidado a participar do Conselho Curador da TV Brasil, que terá 20 integrantes sendo 15 da sociedade civil, o ex-governador de São Paulo Claudio Lembo, do partido Democratas, concorda com a idéia de uma TV pública, "que ajude a preservar a cultura nacional". Mas, ao invés de destacar o conceito de cidadania, um dos mais fortes entre os princípios dessas emissoras, Lembo sugere mais civismo, sinônimo de patriotismo. Consultada, a direção da nova TV disse que um único integrante não consegue aprovar uma sugestão e que o Conselho é mais fiscalizador que propositivo, e caberá a ele estar a atendo à possível ingerência política na TV.