Novo Fox chega com motor sob suspeita

VW admitiu problema, já encontrado em 300 carros

A cúpula da Volkswagen está reunida em Brasília para o lançamento do novo Fox, que começa a chegar às lojas este final de semana com um motor 1.0 sob suspeita de ter defeito grave. A empresa admitiu problemas no propulsor VHT, que também está no Gol G5 (nova geração) e no Voyage, e informou que ainda não tem um parecer sobre as causas. O problema aparece na forma de um barulho forte e incômodo no motor. Segundo a própria Volkswagen, pelo menos 300 carros já apresentaram o problema. Em nota, a empresa disse que "as reclamações analisadas até o momento estão concentradas na existência de ruídos internos no motor, o que em nenhum momento afeta a segurança dos usuários". Segundo a Volkswagen, "as solicitações apresentadas pelos clientes dos modelos Fox, Novo Gol e Voyage estão recebendo toda a atenção da empresa, que está tomando as medidas necessárias para a solução".Apesar de a empresa dizer ainda não saber a causa do defeito, uma fonte ligada à fabricante diz que o problema seria causado pelo rompimento do primeiro dos três anéis dos pistões. De acordo com a mesma fonte, a falha está na composição do material da peça. Procurada pela reportagem ontem, a VW não deu novas informações sobre o andamento do caso até o fechamento desta edição.Enquanto o mistério continua, cresce o número de relatos de consumidores com carros defeituosos. O advogado Alexander Lamiz, de Itaúna (MG), comprou um Gol novo em fevereiro deste ano e afirma que o carro começou a apresentar problemas em agosto. "O carro ficou 28 dias na concessionária e trocaram o motor." Já o Gol do empresário Jailson Mendonça, de Santos (SP)apresentou os mesmos defeitos e teve o cabeçote do motor substituído. Em vão. "Agora agendaram a troca do virabrequim para o dia 29."Em concessionárias da capital paulista, o consumidor que enfrenta o problema terá de abrir mão do carro pelo menos por um dia, tempo necessário para fazer o diagnóstico do problema. Mas o conserto efetivo pode levar até 25 dias. Aldo Donizeti Braga, consultor técnico da Faria Veículos, autorizada Volkswagen no centro, confirma que, na maioria dos casos, o problema é no cabeçote. Isso pode ser resolvido em até três dias, desde que haja peças no estoque. "Depois de o pedido ser aprovado pela montadora um motor demora 25 para chegar", diz Alexandro Nunes, gerente de serviços da Automasa, em Mauá, na Grande São Paulo. Ele afirma que, durante esse período, o cliente pode continuar rodando com o carro. Uma das justificativas da demora é o processo burocrático, que envolve a mudança na documentação do veículo. Se isso for necessário, os custos serão bancados pela Volkswagen. O economista Ayrton Fontes, da MSantos, consultoria especializada no setor automotivo, diz que a demora da Volkswagen para se pronunciar preocupa o mercado. "A rede de concessionárias não sabe ao certo como agir, porque é a montadora que tem de dar as diretrizes." Para Fontes a falha do motor pode estar relacionada a uma adaptação feita com o objetivo de aumentar a potência do motor. "Pode ser um problema de uma única peça, de fornecedor, ou pode ser também alguma adaptação feita para dar mais potência ao motor 1.0", diz.SEGUROSAs seguradoras estudam orientações para quem tem ou teve de trocar o motor dos VW Gol, Fox e Voyage. A Bradesco, por exemplo, informa que qualquer alteração nas características do veículo deve ser comunicada à seguradora. A Porto Seguro analisa o que será feito no caso dos propulsores da Volkswagen, mas ainda não há uma orientação específica para quem fez uma apólice.Na sexta-feira, o gerente do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Carlos Thadeu de Oliveira, disse que, se a Volkswagen constatar que há risco à segurança após a conclusão do estudo que vem fazendo para detectar o defeito, terá de fazer um recall. "Se não convocar os veículos, o mínimo que a fabricante pode fazer é informar a necessidade do reparo, sem se restringir ao conserto apenas dos que procuram a autorizada", explicou . MARCELO FENERICH, MÁRIO CURCIO, MICHEL ESCANHOLA e PAULO JUSTUS