O chefe de polícia de Londres, Ian Blair, deparou-se na quinta-feira com novas pressões para renunciar depois da divulgação de um relatório independente sobre o brasileiro morto por policiais da capital britânica ao ser confundido com um homem-bomba. A Comissão Independente de Queixas contra a Polícia (IPCC, na sigla em inglês) publicou suas conclusões a respeito do que aconteceu no dia 22 de julho de 2005, quando Jean Charles de Menezes recebeu vários tiros ao entrar em uma composição do metrô na estação Stockwell, sul de Londres. O documento contém novos detalhes sobre os eventos que antecederam o erro fatal. E a comissão também criticou Blair por tentar, inicialmente, impedi-la de investigar o incidente. Menezes, um eletricista de 27 anos, foi confundido com um dos quatro homens que tinham tentado, um dia antes, realizar atentados suicidas no sistema de transporte público de Londres, repetindo um ataque semelhante ocorrido duas semanas mais cedo. Na semana passada, a força policial como um todo foi considerada culpada por colocar em risco a saúde e a segurança de cidadãos comuns ao disparar contra o brasileiro. A Justiça condenou-a a pagar uma multa de 175 mil libras (367.400 dólares). Antes dessa sentença, procuradores do país haviam decidido que 15 policiais envolvidos no caso não deveriam responder individualmente pela morte de Menezes. "Erros bastante graves foram cometidos, erros que poderiam e deveriam ter sido evitados", disse Nick Hardwick, presidente da IPCC. "Mas temos de tomar o máximo de cuidado antes de apontarmos para qualquer indivíduo supostamente responsável. Aqueles que possuem opiniões contundentes sobre o caso deveriam estudar as provas com o mesmo cuidado tomado pelo júri." A autoridade cujas ações receberam mais atenção do relatório da IPCC foi Cressida Dick, encarregada da operação. No entanto, o tribunal que multou a polícia na semana passada recomendou especificamente que Dick não fosse criticada. A IPCC apresentou 16 sugestões a fim de que a polícia consiga melhorar suas operações, evitando incidentes do tipo no futuro. O relatório deve intensificar ainda mais as pressões para que Blair, comissário da Polícia Metropolitana, renuncie. Políticos dos blocos conservador e liberal-democrata, oposicionistas, afirmaram que a autoridade deveria abandonar o cargo. Na quarta-feira, a Assembléia Legislativa de Londres aprovou uma moção na qual pedia a Blair que repensasse sua posição e renunciasse. A moção, no entanto, possui apenas peso simbólico. Blair insiste em permanecer no cargo e conta como apoio do governo britânico (controlado atualmente pelos trabalhistas), do prefeito de Londres e do chefe da Autoridade da Polícia Metropolitana (MPA), o órgão responsável por supervisionar as forças de segurança de Londres e que tem poderes para retirá-lo do posto. O relatório da IPCC não responsabilizou Blair por nenhum erro que tivesse levado Menezes à morte, mas criticou-o por ter tentado, inicialmente, impedir a investigação. O chefe de polícia argumentou que essa investigação atrapalharia as operações de combate ao terrorismo então em curso. "Na minha opinião, grande parte das dificuldades evitáveis que o incidente de Stockwell impuseram à Polícia Metropolitana resultou dessa demora (em cooperar)", disse Hardwick. Blair afirmou esperar que o documento da IPCC coloque um ponto final no assunto. Porém, uma nova investigação sobre a morte do brasileiro e uma eventual ação civil da família dele fazem dessa uma possibilidade remota.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.
Notícias em alta | Brasil
Veja mais em brasil