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O que capelas para Nossa Senhora de Aparecida e outras santas contam sobre a história de SP?

No livro ‘Maria do Brasil: As Moradas Paulistas da Santa de Barro’, a professora Adriane Baldin traz abordagem inédita sobre arquitetura residencial e religiosa do período colonial

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Foto do author Gonçalo Junior

A arquiteta e urbanista Adriane Baldin recebeu uma orientação ao ser convidada para dar palestra sobre Nossa Senhora Aparecida cinco anos atrás. “Eu não deveria dedicar muito tempo à descoberta da imagem no Rio Paraíba do Sul porque é uma história já conhecida de todos”, conta a professora do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

A segunda recomendação – essa imposta por ela própria – foi fazer uma pesquisa que retratasse a importância histórica, cultural e social da padroeira do Brasil, mostrando como a religiosidade é elemento estruturante da cultura brasileira. A busca pelo ineditismo em uma história já sabida e o rigor acadêmico para investigar um tema pouco explorado levaram Adriane, mais tarde, à construção do livro Maria do Brasil: As Moradas Paulistas da Santa de Barro, lançado neste mês.

A capela de Nossa Senhora da Ajuda, em Guararema, foi construída em taipa de pilão, “com exceção da parede frontal" Foto: Werther Santana/Estadão

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A partir de uma abordagem inédita, o livro identifica similaridades e paralelismos entre a arquitetura residencial e a religiosa no Brasil, mostrando que a imagem da santa conta muito sobre a história dos paulistas, sua arquitetura e religiosidade. O dia de Nossa Senhora Aparecida é comemorado neste sábado, 12, feriado nacional.

É um olhar sobre Aparecida a partir das moradas que a abrigaram. E vai além: o livro mostra como o homem colonial brasileiro, devoto de Nossa Senhora Aparecida, deu a ela sua própria forma de morar.

Movimentação de romeiros na sala de velas na Basílica de Nossa Senhora Aparecida.  Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

“A identificação entre Aparecida e a população é total a ponto de termos um paralelo entre as capelas e a arquitetura colonial. As casas dos brasileiros eram construídas da mesma forma que as capelas de Aparecida”, explica a pesquisadora.

Na arquitetura colonial brasileira (1530-1822), as casas, capelas, igrejas e edifícios públicos eram feitos em terra crua, as conhecidas taipas, pau a pique, sopapo ou taipa de sebe, nomes que variam conforme a localidade, mas que traduzem uma técnica tão antiga como a história da arquitetura.

Em linhas gerais, ela se divide em dois tipos. A taipa de mão, feita a partir do barro do próprio local da construção ou de algum rio próximo, usa uma estrutura de madeira preenchida com barro.

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Já a taipa de pilão usa forma em madeira onde é depositado o barro cru, socado com um pilão. É mais elaborada e, por isso, mais resistente. Grandes beirais funcionam como “chapéus” para proteger as paredes das chuvas.

Casa em obras no centro de São Luiz do Paraitinga, interior de São Paulo, com paredes em taipa de mão Foto: Adriane Baldin

Adriane relata que o barro era um material bastante utilizado, especialmente em locais sem recursos, como o Vale do Paraíba e São Paulo de Piratininga. As afirmações da especialista estão baseadas em estudos de mais de vinte anos sobre as técnicas construtivas presentes no Estado de São Paulo desde sua origem, em 1554, com pesquisas de mestrado, doutorado e pós-doutorado na USP.

A morada do brasileiro médio era austera, rústica, simples, desprovida de adornos. Seus poucos móveis eram feitos de madeira maciça extraídas das florestas próximas. “Assim como o sabiá e o joão-de-barro, o brasileiro produzia sua casa com a terra do lugar onde estava. Sabedoria que vinha da natureza”, diz trecho do livro, contemplado no Programa de Ação Cultural de São Paulo (Proac), da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativa do Estado.

A arquiteta e professora Adriane Acosta Baldin, autora do livro "Maria do Brasil - As Moradas da Santa de Barro" Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Foi assim provavelmente a primeira morada de Aparecida. Segundo o I Livro de Tombo da Paróquia de Santo Antônio de Guaratinguetá (1757-1883), a imagem da santa ficou na casa do pescador Felipe Pedroso por 15 anos depois de ter sido descoberta.

Não há informações precisas, mas ela deveria ser de taipa de mão, coberta com alguma fibra natural, como telhado. Poderia ser também de palha, como muitas casas do Vale do Paraíba na época.

Capelas crescem para acompanhar aumento dos devotos

Desde o século 18, as capelas dedicadas à santa se multiplicaram para tentar acompanhar o crescente número de devotos, atraídos pelos milagres atribuídos a Aparecida, de acordo com o livro.

Em 1740, o vigário de Guaratinguetá, padre José Alves Vilella, resolveu construir, junto com alguns devotos, uma pequena capela para as práticas do terço e das ladainhas, mas ainda não se celebrava a missa. “A gente pode supor que essa primeira capela era de taipa de mão ou de palha”, diz a pesquisadora.

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Três anos depois, o bispo do Rio de Janeiro, D. Frei João da Cruz, autorizou a construção da primeira igreja dedicada à Mãe Aparecida, como ficou conhecida. Mas exigiu taipa de pilão.

Muro edificado em pedra com argamassa de barro – Ouro Preto (MG) Foto: Adriane Baldin

Após sucessivas reformas na igreja ao longo do século 19, a taipa foi desaparecendo da paisagem brasileira. Um fator determinante foi uma grande enchente no início de 1850 que fez com que muitas casas de taipa se desmanchassem.

Paralelamente, a alvenaria de tijolo, introduzida pelos alemães, começou a se popularizar. “Quase impossível imaginar que a maior cidade do País tem sua história muito bem alicerçada em terra crua, requintes de sua trajetória”, diz outro trecho do livro.

Adriane explica que a substituição da tradicional taipa pelo tijolo não foi feita de uma hora para a outra. “Ainda hoje é possível encontrar residências pelo interior do Brasil feitas em terra crua”. Também há inúmeras construções religiosas que representam a antiga técnica construtiva.

Na região central de São Paulo, o Museu de Arte Sacra é um dos exemplos. Construído em 1774, o equipamento da Secretaria de Cultura do Estado é uma das mais antigas edificações em taipa remanescentes da capital.

No interior, mais precisamente em Guararema, a capela de Nossa Senhora da Ajuda foi construída em taipa de pilão, “com exceção da parede frontal, que é de alvenaria de tijolos”, atesta o documento de tombamento.

Detalhe do livro "Maria do Brasil - As Moradas da Santa de Barro", da professora Adriane Baldin  Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Assim como a arquitetura civil introduz a alvenaria de tijolo e do estilo eclético, mistura dos estilos de arquitetura em voga na Europa, a construção religiosa acompanha a mesma lógica. A construção da Basílica de Aparecida, toda em alvenaria de tijolo, começou em 1955 com projeto arquitetônico de Benedito Calixto de Jesus Netto, neto do artista plástico Benedito Calixto. Foram 25 milhões de tijolos.

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O maior templo mariano do mundo tem como principal atração a própria imagem original de Nossa Senhora Aparecida. “A gente vê a pobreza do Brasil colonial, mas com a presença constante da fé. Chega até o século 21 e vê a quantidade de pessoas que vai à Aparecida. Isso é bonito no livro: o resgate da fé genuína. Ela é um ícone de religiosidade e brasilidade, com imenso poder de atração e encantamento”.

Serviço

Livro: Maria do Brasil: As Moradas Paulistas da Santa de Barro

Autora: Adriane Acosta Baldin

Número de páginas: 303

Editora: Madam

Preço: 68,00

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