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Obama diz que emprego é prioridade

Em discurso sobre o Estado da União, líder admite que seu governo não conseguiu realizar as mudanças prometidas

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Por Patrícia Campos Mello e correspondente em Washington

Na tentativa de estancar sua queda de popularidade, o presidente Barack Obama admitiu em seu discurso sobre o Estado da União que seu governo ainda não conseguiu realizar muitas das mudanças prometidas durante a campanha. "Minha campanha teve como base a promessa de mudança - mudança na qual podemos acreditar, dizia o slogan - e neste momento, eu sei que muitos americanos não têm certeza se ainda acreditam em mudança, ou pelo menos que eu possa fazer mudanças", disse Obama diante de todos os membros do Congresso americano e seu gabinete, em discurso televisionado ontem à noite.

 

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"Para muitos americanos, a mudança não veio rápido o suficiente; eles estão frustrados e bravos." Ele lembrou nunca ter dito que a mudança ia ser fácil. Mas concluiu com otimismo, apesar de se manter realista. "Nós concluímos um ano difícil; um novo ano começou. E nós não desistimos, vamos aproveitar este momento para começar de novo, ir em busca de nosso sonho e fortalecer ainda mais nossa união."

 

Incentivos fiscais

 

O assunto número 1 do discurso sobre o Estado da União, usado por presidentes para traçar a rota do governo nos próximos 12 meses, foi a economia. E Obama pediu ao Congresso que aprove uma nova Lei de Criação de Empregos, numa promessa de resgate da classe média dos Estados Unidos, que vem sofrendo há dez anos com desemprego, queda de salários e custos crescentes de assistência à saúde e mensalidades escolares. "Empregos precisam ser o foco número 1 em 2010, e é por isso que eu proponho uma nova lei de criação de empregos", ele disse. O presidente anunciou incentivos fiscais para pequenas empresas aumentarem contratações e salários, e disse que US$ 30 bilhões do pacote de resgate serão destinados a bancos comunitários, para que eles aumentem os créditos para pequenas empresas

Com o discurso, Obama tenta fazer uma guinada completa na esteira da grande derrota eleitoral da semana passada, quando os democratas perderam para um republicano a vaga do senador Ted Kennedy no estado ultra liberal de Massachusetts. A derrota foi interpretada como um repúdio dos eleitores à situação econômica atual, com desemprego em 10%, e à proposta de reforma do sistema de saúde em tramitação no Congresso.

 

Obama voltou a falar sobre a proposta de congelar parte dos gastos do governo e de outras medidas para conter o déficit do orçamento, diante da preocupação dos eleitores e investidores com a dívida crescente dos EUA. Mas ele enfatizou que os déficits foram herdados do governo anterior, de George W. Bush.

E apesar de ter pouco apoio do público, ele enfatizou a importância de aprovar a reforma do sistema de saúde, atualmente empacada no Senado. "Quando eu terminar de falar hoje à noite, milhões de americanos terão perdido seu seguro saúde, nosso déficit vai crescer, os prêmios vão subir, pacientes terão atendimento negado - eu não vou abandonar esses americanos, e as pessoas aqui também não deveriam abandoná-los", disse, dirigindo-se aos legisladores. "Peço ao Congresso que não abandone a reforma, não agora, que estamos tão perto."

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A política externa foi secundária no discurso, diante da enormidade dos problemas domésticos. Obama abordou as guerras no Iraque e Afeganistão e possíveis sanções contra o Irã. Ele também falou da necessidade de corrigir falhas de inteligência, à luz do incidente do Dia de Natal com o nigeriano que tentou explodir um avião em Detroit. E ressaltou o progresso na discussão de um novo acordo de desarmamento com a Rússia e a reunião com chefes de Estado que será realizada em abril em Washington, para discutir o perigo nuclear.

 

Mas ele reservou alguns agrados para a ala mais esquerda do partido: prometeu repelir o "não pergunte e não fale", política das Forças Armadas que não permite a permanência de integrantes abertamente gays. Acabar com essa política foi uma das promessas de campanha de Obama e ele vinha sendo criticado pela esquerda por não ter agido ainda. "Neste ano, vou trabalhar com o Congresso para acabar com a lei que nega aos gays americanos servir ao país que eles amam."

 

Obama não abandonou o tom populista das últimas semanas, reagindo contra os abusos de Wall Street que levaram à crise econômica. Ele voltou a abordar a necessidade de adotar uma ampla reforma do sistema financeiro. "Todos nós odiamos o resgate aos bancos, eu também odiei - o resgate é tão popular quanto um tratamento de canal."

PONTOS PRINCIPAIS

Enfatizar a necessidade de recuperar a economia depois de uma década de salários em queda e alta nos custos de saúde

Pedir ao Congresso que aprove legislação de incentivo à criação de empregos

Deixar as contas do governo em ordem e combater o déficit e a dívida crescente dos EUA

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Repelir o "não pergunte e não fale", política das Forças Armadas que não permite a permanência de integrantes abertamente gays

Vender de uma forma diferente ao Congresso a reforma do sistema de saúde, rejeitada por eleitores, enfatizando a importância de aprovar a legislação

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