O candidato democrata à Casa Branca Barack Obama lançou uma forte investida contra o rival republicano John McCain na quinta-feira (horário local), prometendo reverter os problemas econômicos dos últimos oito anos e restaurar a reputação dos EUA perante o mundo. Obama, o primeiro negro a concorrer à Casa Branca por um grande partido, ligou McCain diretamente ao presidente George W. Bush e disse que as fracassadas políticas republicanas foram responsáveis pelas incertezas econômicas dos EUA e um declínio da reputação global dos EUA. "Nós estamos aqui porque amamos este país demais para permitir que os próximos quatro anos se pareçam exatamente com os últimos oito", disse Obama a uma multidão de cerca de 75 mil pessoas em um estádio de futebol americano em Denver, no ato em que aceitou sua nomeação na última noite da convenção democrata. "Em 4 de novembro nós devemos nos levantar e dizer: 'oito é o suficiente", disse Obama. Ele fez o maior pronunciamento de sua carreira no 45o aniversário do famoso discurso "Eu tenho um sonho", de Martin Luther King, um marco no movimento dos direitos civis dos EUA. O discurso de Obama deu o pontapé inicial na corrida de dois meses contra McCain pela vitória nas eleições de 4 de novembro. McCain tentou tirar o foco do discurso de McCain durante o dia dizendo que havia escolhido o candidato republicano à vice-presidência. Ele deve anunciar o nome de seu companheiro de chapa na sexta-feira, em Ohio. Obama disse que McCain, senador por Arizona, estava por fora das preocupações cotidianas dos norte-americanos e que ele havia sido "tudo, menos independente" em questões como economia, saúde e educação. "Agora, eu não acredito que o senador McCain não se preocupe com as vidas dos americanos. Eu apenas acho que ele não as conhece", disse Obama, que havia conclamado alguns democratas a adotar uma linha mais dura contra McCain. "O senador McCain gosta de falar sobre julgamento, mas, sério, o que se pode dizer sobre a sua capacidade de julgamento quando você acha que George Bush estava certo em 90 por cento do tempo?", questionou Obama, citando os registros dos votos de McCain no Senado. "Eu não sei vocês, mas eu não estou pronto para aceitar 10 por cento de chances de mudança", disse ele. A boa acolhida do discurso de Obama na TV deu ao senador por Illinois sua maior audiência nacional até o encontro com McCain no final de setembro, no primeiro de três debates contra seu oponente. O discurso incluiu alguns dos mais diretos ataques de Obama a McCain desde que a corrida eleitoral começou. Obama, cujo patriotismo tem sido objeto de ataques na Internet, disse que os candidatos deveriam ser capazes de discordar sem atacar o caráter um do outro. 'O PAÍS PRIMEIRO' "Eu tenho notícias para você, John McCain. Nós colocaremos nosso país em primeiro lugar", disse ele. Obama, desde o início opositor à guerra do Iraque, prometeu "encerrar essa guerra de maneira responsável", mas disse que finalizaria a luta contra a Al Qaeda no Afeganistão e que usaria o poderio militar dos EUA se necessário. O democrata, criticado por ter um discurso sublime mas sem propostas específicas, expôs uma ambiciosa agenda doméstica que inclui cortes de impostos para 95 por cento da população e o fim da dependência do petróleo do Oriente Médio em dez anos. O discurso de Obama encerrou um ensolarado dia de celebração e performances musicais de cantores como Stevie Wonder e Sharril Crow. Quando ele começou a falar, quase todos os assentos e todo o campo de futebol estavam tomados. O ex-vice-presidente Al Gore, Prêmio Nobel e vencedor do Oscar que perdeu uma disputada eleição contra Bush em 2000, também discursou no evento e disse que as coisas teriam sido muito diferentes caso ele tivesse vencido. O último candidato presidencial a aceitar uma nomeação em um estádio de futebol havia sido John Kennedy, que falou na convenção democrata em Los Angeles diante de 80 mil pessoas em 1960.