O candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, Barack Obama, qualificou neste domingo a situação no Afeganistão de "precária e urgente" e disse que o governo norte-americano deveria começar a transferir mais tropas do Iraque para lá. Obama falou sobre o Afeganistão para o programa "Face the Nation," da TV CBS, depois de se reunir em particular com o presidente afegão, Hamid Karzai, no segundo dia de um giro internacional para demonstrar sua competência em política externa. "Temos de compreender que a situação aqui no Afeganistão é precária e urgente. Acredito que este tem de ser o foco central, o front central, em nossa batalha contra o terrorismo", disse Obama, que é senador pelo Estado do Illinois. Ele disse que os EUA deveriam começar a planejar imediatamente uma transferência de soldados norte-americanos do Iraque para o Afeganistão. No Afeganistão estão 36 mil soldados norte-americanos e no Iraque quatro vezes mais. Apesar disso, mais soldados dos EUA foram mortos no Afeganistão do que no Iraque em maio e junho. "Acho que a situação está tão urgente que temos de começar a fazer alguma coisa agora", afirmou Obama. Depois de sua chegada ao Afeganistão, no sábado, Obama ouviu um resumo da situação feito pelo comandante norte-americano das forças lideradas pela Otan no leste do país. Neste domingo, imagens de TV mostraram um Obama relaxado conversando com o presidente afegão, tendo ao lado seus colegas de Senado Chuck Hagel e Jack Reed e ministros afegãos no palácio presidencial de Cabul, que tem um forte esquema de segurança. "Na reunião as duas partes falaram sobre a situação no Afeganistão e em toda a região, a campanha mundial contra o terrorismo e o narcotráfico e também sobre uma maior expansão das relações entre os EUA e o Afeganistão", informou o palácio presidencial afegão em um comunicado. Obama também vai visitar o Iraque, Jordânia, Israel, Alemanha, França e Grã-Bretanha em um giro internacional que, ele espera, possa ser uma resposta às críticas dos republicanos de que não tem experiência para ser o comandante-chefe das Forças Armadas. Seu rival republicano nas eleições presidenciais de novembro, John McCain, é um veterano da Guerra do Vietnã que diz ser mais forte em segurança do que Obama, que está no primeiro mandato no Senado. Passados mais de seis anos que uma coalizão liderada pelos EUA removeu o governo islâmico do Taleban do poder --grupo que dava abrigo à rede Al Qaeda --, a violência aumentou acentuadamente no país este ano. "Um dos grandes erros que cometemos na estratégia depois do 11 de Setembro foi fracassar na conclusão do serviço aqui, em concentrar nossa atenção aqui. Nós fomos distraídos pelo Iraque", disse Obama. Obama quer enviar mais duas brigadas, ou seja, cerca de 7.000 soldados norte-americanos, para o Afeganistão e mudar a ênfase do que ele qualifica de foco "único" do governo Bush no Iraque. "Está começando a haver um crescente consenso de que é hora de nós retirarmos algumas de nossas tropas de combate do Iraque, deslocá-las para cá, no Afeganistão, e eu acho que temos de agarrar essa oportunidade. Agora é a hora para fazermos isso", disse ele. Obama disse que se os EUA esperarem até a posse do novo governo, poderia levar um ano até que os reforços norte-americanos chegassem ao Afeganistão. Na semana passada, Obama criticou Karzai em uma entrevista à CNN. "Acho que o governo de Karzai não saiu do bunker para ajudar a organizar o Afeganistão e o governo, o Judiciário e as forças policiais, de um modo que transmitisse confiança ao povo. Por isso há uma porção de problemas lá", disse então Obama à TV. Karzai já foi o queridinho do Ocidente, mas agora enfrenta críticas crescentes em casa e no exterior, por não adotar medidas duras para coibir a corrupção desenfreada e combater antigos senhores da guerra e a produção de drogas em níveis recordes --fatores que alimentam a insurgência do Talibã, que está crescendo. Mas ao ser indagado, antes da viagem, se usaria palavras duras com Karzai e o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, Obama respondeu: "Estou mais interessado em ouvir do que falar." "E acho que é muito importante reconhecer que estou indo lá como senador dos EUA. Temos um presidente por vez, portanto é tarefa do presidente enviar tais mensagens", disse Obama. (Reportagem adicional de Sayed Salahuddin)