O que Eurídice de Orfeu Negro e o capitão Nascimento têm em comum? Após a ocupação policial permanente, conhecida como Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Morro da Babilônia, em Copacabana, na zona sul do Rio, cariocas e turistas podem conhecer o local que serviu como cenário para várias produções cinematográficas premiadas. De Orfeu Negro, Palma de Ouro em Cannes em 1959, a Tropa de Elite, vencedor do Festival de Berlim no ano passado, vários filmes, novelas e minisséries usaram o morro como locação. O motivo para o local servir de cenário para tantas produções está na coleção de cartões-postais que cercam o morro, que se estende pelos bairros de Urca, Botafogo e Leme, além de proporcionar uma vista única para o mar de Copacabana. A alemã Isabell Erdmann, de 34 anos, que mora há quatro anos no País e há dois no morro, guia os turistas pelo passeio que chama roteiro cinematográfico do Babilônia. A visita passa pela favela, por trilhas nas matas e chega até um dos pontos mais altos do morro. As paradas obrigatórias são os locais onde foram filmadas as cenas mais famosas das premiadas produções e outros filmes, como Rio Babilônia, realizado em 1982 pelo cineasta Neville de Almeida, e recentemente novelas e minisséries, como Cidade dos Homens. "A velha ruína, que foi transformada na casa do Orfeu para o filme, é uma das paradas do passeio. A vista é incomparável. Todos os cartões postais do Rio de Janeiro vistos de um só lugar. Lamento que, por enquanto, apenas estrangeiros façam este tour", afirma Isabell. A alemã se refere ao ponto mais alto do morro, que serviu como cenário para os créditos iniciais e as cenas finais de Orfeu Negro. Do local, o turista pode avistar, do mesmo lugar, as praias de Copacabana, Urca e Botafogo, além do Pão de Açúcar, a Baía de Guanabara e o Cristo Redentor. No entanto, logo na chegada, na Ladeira Ary Barroso, principal via de acesso ao morro, o visitante começa a lembrar de cenas de cinema. No início da rua, o polêmico capitão Nascimento (interpretado por Wagner Moura), de Tropa de Elite, ordenou aos policiais militares no filme "ninguém sobe!". Mais adiante, no final da ladeira e no início da subida do Babilônia, lá estão a quadra que foi palco do baile funk e do tiroteio no início do filme. Logo no primeiro lance de escada, na frente da associação de moradores, o pequeno espaço que era usado pelos traficantes como boca de fumo na fita. Como um exercício de metalinguagem, o cenário virou tema de filme. O morro, com seu incrível visual para a festa do réveillon, e o espírito alegre dos moradores foram retratados no documentário Babilônia 2000, de Eduardo Coutinho. FESTAEste ano, com a pacificação, a associação dos moradores fará uma festa no alto do morro com direito a ceia e vista privilegiada para a queima de fogos. "Levaremos 30 pessoas e ofereceremos uma ceia modesta, por entre R$ 30 e R$ 50. Metade das vagas já está ocupada por cariocas que não moram no Babilônia", comemorou o vice-presidente da associação, Carlos Ribeiro.