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Olodum tá reggae, Olodum tá pop e com novos temas

Grupo chega ao 30.º carnaval e repensa trajetória disposto a enfrentar desafios

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SALVADORToda terça-feira, desde o fim de dezembro, o Olodum realiza seus tradicionais ensaios de verão, no Pelourinho, em Salvador. É o ponto alto da chamada Terça da Bênção da cidade e a oportunidade para o grupo de testar as novidades que serão apresentadas durante o carnaval. Este ano, porém, os ensaios são especiais: o grupo prepara-se para o 30º desfile pelos circuitos carnavalescos, experimenta novos temas nas canções e ainda tem de encarar um sentimento misto de comemoração e pesar às vésperas da maior festa popular do mundo. Em abril de 2009, o Olodum completou o 30º aniversário. Pouco depois, porém, o grupo originalmente formado apenas para ser um bloco carnavalesco dos habitantes do Pelourinho - então um bairro de classe média-baixa da capital baiana - viu partirem dois de seus maiores ídolos e divulgadores. Em 25 de junho, morreu o norte-americano Michael Jackson. Quatro meses mais tarde, em 31 de outubro, foi a vez do músico baiano Antonio Luís Alves de Souza, o Neguinho do Samba. O primeiro foi o principal responsável pela consolidação da banda no cenário internacional, um processo iniciado por Paul Simon, que convidou o Olodum para participar da gravação da faixa The Obvious Child, do disco The Rhythm of the Saints, em 1989. Jackson elevou a banda ao patamar estrelar, com a participação do grupo na faixa They Don"t Care About Us, do álbum HIStory: Past, Present & Future - Book I, de 1996, e com a gravação do clipe da canção em terras brasileiras. Nada disso, porém, teria acontecido se Neguinho do Samba, então maestro da banda, não tivesse inventado um novo jeito de harmonizar instrumentos percussivos. Misturando as batidas das escolas de samba do Rio, do samba do Recôncavo Baiano e do reggae jamaicano, ele chegou a um novo ritmo, que passou a ser chamado de samba-reggae, há 25 anos. A partir dali, o som virou sinônimo de música baiana, e marca registrada do grupo.Mesmo antes das mortes, os administradores do Olodum sabiam que o período entre 2009 e 2010 seria de desafios. Na pauta, o lançamento de um CD - o primeiro com canções inéditas desde 2005 -, os preparativos para o 30º carnaval e a tentativa de reafirmação da trajetória da banda nos mercados brasileiro e internacional. TRANSIÇÃO"Avaliamos que o grupo estava passando por uma fase de estagnação", diz o diretor de Eventos do grupo, Jorge Rodrigues. "Então, incentivamos os integrantes da banda a experimentarem novas sonoridades. Incluímos até batidas eletrônicas, mas sempre acabávamos no samba-reggae", lembra. A morte de Neguinho do Samba encerrou os testes. "Decidimos que nossa missão é eternizar o samba-reggae."Se o ritmo continua, as letras foram reformuladas. Banda Olodum, com nove novas canções - além de quatro regravações -, mostra que perdem força as referências a Salvador. "A gente já falou demais do Pelourinho", avalia Rodrigues. "O novo trabalho é mais comercial, espelhando o que está sendo feito na música da África." O tema do 30º carnaval, Índia, Brasil, África do Sul - A terceira visão, é uma síntese da aposta da banda na convergência cultural com outros países.A forma de distribuição das músicas também ficou diferente. "Não dá para comparar o impacto entre vender 10 mil cópias e disponibilizar o trabalho na internet para que milhões de pessoas tenham acesso gratuito", avalia o executivo. O novo CD está disponível apenas para distribuição e as canções podem ser baixadas no site da banda.O que não muda no grupo são os trabalhos sociais: a Escola do Olodum, que abriga 360 estudantes de canto, dança, percussão e informática, e o Bando de Teatro do Olodum, de onde surgiu, por exemplo, a peça Ó, Paí, Ó. "Eles são responsáveis por grande parte do mito que se criou em torno do Olodum", avalia o ator e dançarino Carlos Santos, o Negrizu, instrutor de dança da escola. "O grupo transcendeu o discurso do "eu sou negro e tenho orgulho"."No cenário internacional, o grupo considera que a exposição causada pela morte de Michael Jackson já é suficiente para, pelo menos, manter o Olodum no atual nível - cerca de 40 apresentações anuais fora do Brasil - pelos próximos anos. "Notamos, nos shows que fizemos no ano passado (em países como Estados Unidos, Alemanha e Itália), que houve uma redução na idade média do público, de 35 para 25 anos, mais ou menos", diz Rodrigues. "Acho que os jovens ficaram curiosos para conhecer o grupo que tocou com Michael."

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