OMS é instada a cobrar farmacêuticas

Especialistas querem contrapartida da indústria pelo recebimento de material de vírus da gripe

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Por Ligia Formenti e BRASÍLIA
2 min de leitura

Comitê de especialistas em saúde reunido nesta semana em Genebra definiu uma estratégia para cobrar de fabricantes de remédios, vacinas e kits de diagnósticos uma contrapartida pelo recebimento de material biológico relacionado ao vírus influenza.O grupo vai propor à direção da Organização Mundial da Saúde (OMS) que estipule um prazo de seis meses para que essas empresas - que faturam milhões com material coletado em laboratórios espalhados pelo mundo - comprometam-se com uma política de ressarcimento. Se o prazo não for atendido, as empresas não receberão mais o material. "Foi a forma encontrada para evitar que essa discussão se arraste por anos", afirmou o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, presente à reunião.A decisão de exigir de laboratórios uma contrapartida já havia sido adotada numa reunião no ano passado, dentro de uma estratégia para Preparação para Influência Pandêmica. As experiências com as gripes suína e aviária deixaram claro para OMS a necessidade de definir a participação das empresas nesse processo. Numa primeira reunião, foi acertado que empresas contribuiriam anualmente com cerca de US$ 28 milhões para a Rede Global. Foi também acordado que as companhias apresentariam uma contrapartida ao recebimento do material biológico, usado para pesquisas e desenvolvimento de novos produtos.No contrato, empresas podem optar por duas entre seis alternativas apresentadas - como venda de remédios a preços mais baratos, transferência de tecnologia ou doação de produtos. "Tudo feito durante um período de crise", afirmou Barbosa.Como as empresas têm perfis diferenciados e o processo exige uma discussão caso a caso, a decisão foi conceder um prazo para que a opção fosse realizada. Nas próximas semanas, as empresas receberão cepas dos vírus que circularam no Hemisfério Norte durante este inverno. Material que será usado para fazer a nova vacina da influenza para este ano. "Nossa recomendação é que, caso eles não façam definição, o material não será dado na próxima vacina, feita com material coletado no Hemisfério Sul", disse Barbosa. Na reunião o comitê também definiu o destino que será dado para recursos extras - obtidos agora com a colaboração das farmacêuticas. A sugestão que será feita à direção da OMS é que 70% dos recursos sejam destinados para preparação de uma nova pandemia de influenza. "O dinheiro seria usado para fortalecer a vigilância, a detecção de eventuais mutações do vírus." Atualmente, há cerca de 160 centros nacionais de vigilância de influenza, distribuídos em 106 países. "Quase 90 países que integram a OMS não contam com esses laboratórios, algo que precisa ser mudado", disse. O secretário afirma que nem todos os países precisam de um centro. "Mas é preciso ampliar esse número", comentou.

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