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Padre é preso em Pernambuco sob suspeita de estupro contra fiel; caso é investigado pelo MP

Airton Freire de Lima, de 63 anos, foi preso em Arcoverde, sertão pernambucano. Vítima denuncia caso com participação de motorista do padre

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Foto do author José Maria Tomazela

O padre católico Airton Freire de Lima, de 63 anos, foi preso nesta sexta-feira, 14, suspeito de estupro contra uma fiel de sua igreja, em Arcoverde, no sertão de Pernambuco. De acordo com a vítima, o crime teria acontecido em agosto do ano passado, na sede da Fundação Terra, instituição criada pelo religioso para atender pessoas socialmente vulneráveis.

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Conforme o Ministério Público de Pernambuco, outras cinco denúncias contra o padre estão sendo investigadas. O religioso foi afastado das funções sacerdotais. Seus advogados vão entrar com habeas corpus contra a prisão, que consideram indevida.

O mandado de prisão expedido pela Justiça foi cumprido pela Polícia Civil na sede da Fundação Terra, onde o religioso se encontrava. A operação foi apoiada pela Polícia Rodoviária Federal. O MP, que pediu a prisão do suspeito, disse que a medida cautelar é necessária para garantir a continuidade da investigação, afastar o risco de novos delitos e assegurar a proteção às vítimas que procuraram a tutela do Estado. Três promotores foram designados para acompanhar o caso, que é tratado como sigiloso pela justiça.

A denúncia contra padre Airton, conhecido em todo o Estado pela atuação à frente da fundação que mantém também creches e escolas, foi feita pela personal stylist Silvia Tavares de Souza. O caso veio à tona em maio deste ano, quando ela procurou a imprensa e também o governo do Estado para pedir que a investigação fosse concluída.

Padre Airton Freire é acusado de estupro por fiel de sua igreja, em Arcoverde, no sertão de Pernambuco Foto: Fundação Terra/Divulgação

Em entrevista gravada em vídeo e publicada em redes sociais, Silvia disse que se expôs para encorajar outras mulheres. Ela recebeu apoio de entidades em defesa da mulher.

Na denúncia, Silvia afirma que um motorista e segurança do padre a ameaçou com uma faca e forçou a ter uma relação sexual com ele, por ordem do religioso, que se masturbou enquanto presenciava o ato. Moradora de Recife, ela relatou ter conhecido o padre em 2019, quando buscava ajuda para tratar uma depressão.

Desde então, a relação entre os dois se tornou próxima – ela o chamava de ‘padinho’ e ele se referia a Silvia como ‘princesa’.A violência sexual teria acontecido nos aposentos do padre, nas dependências da fundação.

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Silvia participava de um retiro espiritual quando o padre teria pedido que ela lhe fizesse uma massagem. O motorista Jailson Leonardo da Silva, de 36 anos, a levou ao local onde o religioso estava deitado de bruços, coberto com um lençol de seda, e ela começou a massagem nas costas.

Quando ele pediu ao segurança que desse hidratante para a mulher massageá-lo no cóccix, ela percebeu que ele estava sem cueca e pulou da cama. Segundo ela, o segurança colocou uma faca em sua garganta e o padre mandou que ele a estuprasse.

Enquanto Jailson consumava o estupro, o padre assistia e se masturbava, sentado em uma cadeira. Ainda segundo a mulher, o padre tirou fotos do casal nu. Depois acariciou os órgãos genitais do motorista e mandou que eles tomassem banho. As diligências realizadas nesta sexta incluíram o cumprimento de mandados contra o motorista, mas até a manhã deste sábado, 15, segundo a Polícia Civil, ele não tinha sido preso.

Padre havia se afastado da presidência da fundação

Conforme informa em seu site, a Fundação Terra Servos de Deus foi criada em 1984 pelo padre para atender moradores do entorno de um lixão a céu aberto, no sertão de Pernambuco. Atualmente, a organização social e religiosa mantém três escolas e duas creches, atendendo 355 alunos do ensino infantil e fundamental.

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A fundação mantém também um lar de idosos e casas de acolhimento a crianças e adolescentes em vulnerabilidade social, além de um centro de reabilitação física. A instituição é apoiada por empresas e órgãos públicos.

No início de junho, o padre Airton se afastou da presidência e divulgou um comunicado dizendo que passava a governança para a vice-presidente “em razão dos últimos acontecimentos noticiados pela imprensa, envolvendo minha pessoa em atos não apropriados e, portanto, reprováveis”. O padre nega as acusações. A fundação informou que todas as atividades sociais e educacionais estão sendo mantidas.

A Diocese de Pesqueira, a qual o padre Airton é vinculado, afastou o clérigo do exercício da função sacerdotal. Em comunicado assinado pelo bispo José Luiz Ferreira Sales e publicado no último dia 30, a diocese informou que, diante de “possível cometimento de delitos tipificados pelo ordenamento da Igreja em seu desfavor pelo padre Airton Freire”, o sacerdote “está privado do uso da ordem” e “não tem jurisdição para presidir ou administrar qualquer Sacramento”

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O Ministério Público de Pernambuco disse, em nota, que a prisão do padre se deu após “exame criterioso dos elementos de prova até então colhidos” e como “medidas necessárias para resguardar e evitar vitimização das vítimas que buscaram o aparato estatal para relatarem violências sexuais que estão em investigação”.

A promotoria informou que, no momento, há cinco inquéritos policiais instaurados, em razão da identificação de outras vítimas, e que, para uma análise célere dos fatos, a Procuradoria-Geral de Justiça designou mais três promotores para atuarem no caso.

Os advogados Mariana Carvalho e Marcelo Leal, que defendem o padre Airton, se disseram surpresos com a decisão de decretar a prisão preventiva do sacerdote. “O feito é totalmente contrário às condições previstas em lei e será tratado em habeas corpus a ser impetrado pela defesa. Importante lembrar que o padre, um homem de 67 anos, sofre sérias restrições de saúde”, disse a defesa, em nota.

A decisão, segundo os advogados, ignorou que o padre havia se afastado das funções eclesiásticas e da presidência da Fundação Terra, onde desenvolve um trabalho social que atendeu milhares de pessoas nos últimos 40 anos.

Ainda segundo a defesa, depois do afastamento, o padre ficou isolado em sua residência – que é fixa, onde ele pode ser encontrado a qualquer momento -, de forma a não interferir nas investigações. “Apesar de todo o apoio que tem recebido de milhares de pessoas na internet e em manifestações públicas nas ruas de Arcoverde (PE), o padre jamais insuflou movimentos, de modo a não causar comoção social ou desordem pública”, disse.

A defesa de Jaílson disse, em nota, que ele nega as acusações. “Jailson atua há 1 ano e quatro meses na Fundação Terra, nunca se envolveu com práticas delituosas e está à disposição das autoridades para colaborar com as investigações”, disse.

Procurado, o padre informou que seus advogados já se manifestaram. O Estadão entrou em contato com Silvia Tavares e ainda aguarda retorno.

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