Eduardo Paes (PMDB) está concentrando suas propostas de campanha no eleitorado mais pobre, a quem se refere como "povo sofrido" e "povo suburbano". Fernando Gabeira (PV), por sua vez, aposta na imagem de político amplo e cosmopolita, em contraposição ao ideal de "prefeito síndico", defendido por seu adversário. Os candidatos que disputarão o segundo turno no Rio de Janeiro tentaram deixar mais evidentes suas diferenças em debate promovido pelo jornal O Globo, nesta quinta-feira. Ex-petista e hoje coligado com partidos de oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Gabeira tenta também desarticular o discurso de Paes sobre o fim do "isolamento político" da cidade depender da eleição de um prefeito da base aliada. "Tirar o Rio do isolamento não é só com o governo federal, mas com o Brasil e com o mundo", defendeu Gabeira. "Só digo que vou romper o isolamento com mais facilidade, porque tenho mais contatos no Brasil e no mundo". Gabeira também rebateu críticas de Paes sobre sua inexperiência administrativa, afirmando, em tom irônico, ter gasto menos dinheiro em campanha e ter conquistado maior número relativo de votos, o que, para ele, seria exemplo de uma boa administração de recursos. "O que houve de diferente entre as campanhas? Minha campanha começou com a proposta de não ocupação partidária, de não sujar as ruas e de ser transparente... Com menos dinheiro, eu ganhei proporcionalmente mais votos", destacou o candidato do PV, que disse ainda ter usado a internet no lugar de espalhar cartazes pela cidade, como fez Paes. ALIANÇAS A formação das alianças do segundo turno, que teria aproximado Gabeira da direita e Paes da esquerda, também provocou trocas de acusação. Segundo o candidato do PV, os partidos têm dificuldade de aceitar sua proposta, pois ele não fará distribuição de cargos após eleito. "Não é com indivíduos que se faz diálogo institucional, mas com os partidos. Estou articulando o apoio dos partidos à minha candidatura de forma transparente e aberta", disse Paes. "O candidato Gabeira diz isso porque recebe o apoio do prefeito Cesar Maia (DEM), que é um apoio que busca esconder". De acordo com Gabeira, Cesar Maia tomou a decisão espontânea de apoiá-lo, sem que fosse procurado, porém não subirá ao palanque ou aparecerá na propaganda de TV. O candidato afirmou ainda que criará um "conselho de ex-prefeitos" para ajudá-lo a governar. Para atingir o adversário, Gabeira intensificou as críticas contra o governador Sérgio Cabral, principal cabo eleitoral de Paes, mas poupou o presidente Lula, que recentemente deu sinal verde para que o PT apoiasse o peemedebista na cidade. Sobre as mudanças de partido feitas pelos candidatos nos últimos anos, Gabeira voltou a fazer provocações contra Paes. "As pessoas não saem do partido quando o partido é do governo. São poucas. Eu saio", comentou, logo após frisar que não trocou várias vezes de partido como o adversário. Paes afirmou ter pautado sua vida política pela preocupação com o Rio de Janeiro e não por questões partidárias (Reportagem de Carla Marques)