Os pais do menino João Victor Portellinha entrarão com um pedido de liminar na Justiça de Goiás para tentar assegurar a freqüência dele, que tem 8 anos, no curso de direito na Universidade Paulista (Unip) de Goiânia. Victor, que, atualmente, cursa a 4ª série do ensino fundamental, foi aprovado no vestibular há três dias, quando também pagou a taxa de matrícula. Mas foi barrado hoje na porta da faculdade. O Ministério da Educação investigará o caso. "Eles não deixaram o João entrar", disse a arquiteta Maristela Portellinha, de 42 anos, mãe do menino. "Ele foi matriculado e quer estudar porque tem o sonho de ser juiz federal", disse. "Porém, os funcionários disseram que a taxa de matrícula será devolvida e o João se aborreceu com tudo isso", afirmou. "Como não posso ficar chateado?", perguntou o menino à mãe. "Eu fui barrado no primeiro dia de aula...", reagiu. Segundo uma nota oficial da Unip, Victor foi aprovado no exame vestibular na condição de "treineiro" - ele participou entre os alunos que ainda não concluíram o 2º grau e, por isso, não tem chance de concorrer a uma vaga. Apesar da condição, a Unip recebeu o pagamento da taxa de cujo boleto o menino baixou sozinho pela internet. "O dinheiro será devolvido", afirmou uma funcionária da secretaria, que fica no bloco A do Campus Flamboyant. A família de Victor, que mora no Setor Bueno - um bairro de classe média e média alta - entende que ele tem potencial intelectual para freqüentar o curso. "Ele gosta de história, português e temas contemporâneos", afirmou Maristela. "Talvez, por isso, foi bem na prova de redação", disse. O pai, o empresário William Ribeiro, estudante de direito na Unip, prefere não fazer comentários. O avô, um jornalista aposentado que levou Victor no dia da prova, prefere o anonimato: "O João vive um momento que é dele", disse. Colégio No curso do ensino fundamental do Colégio Imaculada Conceição, na capital goiana, as opiniões dividem-se. A escola ganhou notoriedade pelo feito. Mas há quem acredite que a precocidade do menino pode "eliminar" a infância dele. Reação agressiva, mesmo, teve o presidente da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Estado, Jonathas Silva. "Foi uma surpresa e a questão confirma nossas suspeitas sobre a mercantilização do ensino jurídico no Brasil", declarou. "Talvez, explique o alto índice de reprovação nos exames de Ordem, mas a questão é saber hoje como o MEC (Ministério da Educação) vai reagir a isso", questionou. Para Silva, "o menino não tem maturidade" para freqüentar as aulas. Para a universidade, no entanto, Victor obteve um desempenho considerado "bom" no vestibular. A prova de redação foi para o aluno a mais fácil. "Ele revelou boa capacidade de expressão e manejo eficiente da língua", informou a Unip, em nota oficial.