A ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt pode ser uma alternativa a Álvaro Uribe para a Presidência da Colômbia, na avaliação de analistas e políticos colombianos. Uma pesquisa publicada pela revista Semana, no domingo, mostra que Betancourt só perderia uma eleição presidencial hoje para o atual presidente. De acordo com a revista, com Uribe fora da corrida, ela teria 52% das intenções de votos, contra 40% do ministro de Defesa, Juan Manuel Santos, um dos mais fortes potenciais candidatos de Uribe às eleições de 2010. Quando o presidente colombiano é colocado na disputa, porém, ele tem 72% das intenções de votos, enquanto Betancourt aparece em segundo lugar, com 9%. Para poder concorrer a uma segunda reeleição, Uribe precisa aprovar um projeto que muda a Constituição do país. A pesquisa, realizada na semana passada nos dois dias posteriores à libertação de Betancourt, reforça a opinião de diferentes analistas para quem a ex-refém pode se tornar uma nova protagonista na política colombiana. Opções Para especialistas, ao menos em parte o futuro político imediato de Betancourt está ligado ao de Uribe. O atual presidente ainda não decidiu se tentará mudar novamente a Constituição do país para poder se candidatar ao terceiro mandato ou se lançará um sucessor. Na opinião do analista político colombiano Mauricio Romero, a decisão está nas mãos de Uribe. A seu ver, Juan Manuel Santos e o senador German Vargas poderiam ser alternativas à continuidade dentro do governo. "(Se quiser ser candidata) Ingrid entraria na disputa de grupos que compõem a base do governo e que não necessariamente estariam de acordo com sua candidatura", afirma Romero. O senador colombiano de oposição Gustavo Petro, do partido Pólo Democrático, diz que "se Betancourt mantiver a linha política que marcou suas declarações (nos) primeiros dias de liberdade, sem dúvida será a candidata de Uribe". "Suas declarações, apesar de emocionadas, não são improvisadas, há um claro apoio à política de segurança democrática do governo." Horas depois de ser resgatada, Betancourt elogiou a atuação do Exército da Colômbia. Na quinta-feira, em outras declarações, disse apoiar a continuidade das políticas adotadas por Uribe no combate à guerrilha. Para Petro, "o presidente não teria melhor opção que a candidatura de Ingrid. Não há outros líderes no governo, o uribismo é Uribe". No entanto, Petro concorda que o êxito de uma candidatura de Betancourt depende da decisão de Uribe de apostar ou não em um terceiro mandato. "Se Uribe se candidatasse à reeleição, seria o ganhador, não haveria possibilidades para Ingrid", afirma ele. Visões antagônicas O analista político colombiano Pedro Medellin afirma que Betancourt seria a única que poderia vencer Uribe caso optasse por uma candidatura independente. "Ela também é inimiga das Farc, defende uma saída negociada (para o conflito armado) e sua reputação é marcada por combater a corrupção e o clientelismo. Uribe tem uma gestão manchada por escândalos de corrupção e de envolvimento com o narcotráfico", diz. "Na reta final, Ingrid ganharia vantagem." Medellin também afirma que Betancourt e Uribe, na verdade, têm visões diferentes sobre o confronto com as Farc e considera improvável uma aliança entre os dois. "Ela não poderia se enfrentar com Uribe neste momento, ele foi o responsável por sua libertação", afirma. "No entanto, os dois têm visões antagônicas sobre o conflito. Ingrid aposta na negociação política, Uribe defende a via militar. Esse enfrentamento surgirá logo que a poeira baixar", diz Medellin. Em uma coletiva em Paris, ao ser questionada sobre seu futuro político, Betancourt disse não ter projetos pessoais, mas querer "servir na Colômbia os que sofrem". Em entrevista a um canal de TV francês, ela afirmou que "a política é uma palavra que caiu um pouco em desgraça (...) quero servir, talvez fazendo política, talvez fazendo outra coisa. Digo com freqüência que quero mudar o mundo, claro que é algo um pouco vasto, mas eu quero mudar as coisas". Alguns comentaristas da TV francesa disseram, logo após a coletiva, que a maneira de Betancourt se expressar, as suas respostas, já demonstravam que ela estaria se posicionando como uma política. Continuidade Os analistas ouvidos pela BBC Brasil concordam que, se Betancourt chegasse à Presidência, independentemente das possíveis alianças, não modificaria substancialmente a política do atual governo. "Antes mesmo do seqüestro, Betancourt defendia uma política econômica neoliberal", afirma o senador Petro. Para o analista político Rafael Nieto, ex-vice-ministro de Justiça, Betancourt poderia encabeçar um governo conservador com continuidade das políticas de combate às Farc. No contexto regional, Nieto afirma que a ex-refém se aproximaria da chamada esquerda moderada. "Estaria mais perto de Lula do que de Chávez", diz. Para Medellin, a divisão seria mais ampla. "Estaria mais próxima da América Latina do que dos Estados Unidos, diferentemente do governo atual", afirma. * Colaborou Daniela Fernandes, de Paris para a BBC Brasil BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
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