Familiares dos passageiros que viajavam para Paris no Airbus desaparecido da Air France completam nesta sexta-feira, 5, 100 horas de expectativa e pesar e começam a se organizar para cobrar a responsabilização pelo acidente. Os parentes estão hospedados desde o início da semana no Hotel Windsor, na Barra da Tijuca, zona sul do Rio de Janeiro, com o apoio de uma equipe de 20 pessoas.
A primeira decisão tomada pelos familiares foi criar uma comissão para acompanhar os esforços de busca diretamente no Cindacta 3, em Recife, onde está montada a base das operações. Alguns discordaram da decisão, pois consideravam o sistema de contato direto montado pela Marinha e pela Aeronáutica suficiente.
Dez parentes embarcaram com destino à Recife na manhã desta sexta-feira em uma aeronave da Força Aérea Brasileira para uma reunião com o Comando da Aeronáutica. Eles devem retornar no início da tarde, a tempo de participarem de uma missa às 18hs na Igreja Nossa Senhora do Carmo, no centro do Rio, que homenageará as vítimas do acidente. A presença do presidente Luis Inácio Lula da Silva é esperada na cerimônia.
O Papa Bento 16 já enviou mensagem de pêsames aos familiares das vítimas, e na quinta-feira, 4, um ato ecumênico na Igreja da Candelária reuniu cerca de mil pessoas, entre elas o ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner. "Normalmente o caminho Paris-Rio é de alegria. Vim para lhes dizer que em ambos os lados do Atlântico a dor é a mesma", disse.
Familiares e amigos das vítimas da tragédia com o voo 3054, que deixou 154 mortos após o Airbus da TAM atravessar a pista de Congonhas, na capital paulista, também enviaram nota de solidariedade.
Nomes
A lista oficial com o nome de 53 dos 59 passageiros brasileiros foi divulgada na quinta-feira, 4, pela Air France, após autorização das famílias. Em seis casos, os parentes decidiram manter o sigilo.
Segundo o advogado Marco Túlio Moreno Marques, que perdeu os pais no acidente, alguns familiares preferiram não divulgar os nomes por temerem a ação de golpistas. Dante D´Aquino, advogado da associação formada por parentes das vítimas do voo da Gol que caiu ao colidir com um Learjet em 2006, tem avaliação diferente. "A ausência da divulgação atende mais aos interesses da empresa aérea do que a proteção das familiares", disse.
Tensão
Na terça-feira, 2, os familiares fizeram uma reunião tensa com o ministro Nelson Jobim e cobraram o recebimento em primeira mão das notícias sobre as buscas, pois alguns fatos estavam sendo divulgados antecipadamente pela imprensa.
No dia seguinte alguns parentes foram vítimas de um boato, após um homem entrar no salão de acompanhamento e anunciar que um site havia divulgado que uma fragata tinha resgatado sobreviventes.
Trâmites jurídicos
O ministro da Justiça, Tarso Genro, anunciou na quinta-feira que estuda a criação de uma Câmara Indenizatória para atender às famílias de vítimas. Genro aguardará cerca de 40 dias para marcar um encontro com os parentes.
O pedido de morte presumida à Justiça poderá ser feito pelas famílias após o término da operação de busca. Nesse caso, um juiz fornece um substituto do atestado de óbito necessário para desbloquear bens e direitos da vítima. Sem ele, parentes têm dificuldade para movimentar contas bancárias conjuntas, desfazer-se de bens e receber aposentadorias privadas ou seguros de vida.