O Primeiro Comando da Capital (PCC) se infiltrou no Congresso, por meio de uma organização não-governamental, para influenciar a CPI do Sistema Carcerário e obter o abrandamento do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Dinheiro não era problema para a principal organização criminosa do País. O lobby patrocinado pelo crime organizado tinha em suas mãos um caixa de R$ 2,4 milhões para bancar viagens, estadas, depoimentos e contatos com parlamentares. Pagamentos de até R$ 100 mil foram feitos para "trabalho realizado junto a uma das CPIs que interessam à facção". Veja também: Facção preparava portal na internet Lobby do PCC já foi sentido no Congresso Todas as notícias sobre o PCC Tratava-se do dinheiro da chamada "Sintonia dos Gravatas", como é conhecido na facção o departamento jurídico do PCC, que emprega cerca de 20 advogados com atuação em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Pernambuco. Investigação feita pelo Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Estadual concluiu que a Sintonia dos Gravatas "trabalha para infiltrar o PCC em setores organizados da sociedade brasileira" e "busca infiltrar-se nos Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo". As investigações da Operação Prima Donna, ocorrida em 25 de julho, mostraram que eram freqüentes as ações para "aproximar integrantes da organização de parlamentares, com o nítido propósito de interferir na elaboração de lei e de políticas públicas visando a afrouxar as punições a membros da cúpula da organização". Ao usar integrantes de uma ONG e advogados, o PCC buscava se esconder atrás de pessoas insuspeitas, tornando mais eficaz a defesa de seus interesses. Documentos apreendidos na casa da advogada Alessandra Moller e no computador da advogada Patrícia Galindo de Godoy confirmam essa suspeita. Elas coordenavam os advogados do PCC e foram presas durante a operação do Gaeco. A facção queria acabar com o regime utilizado pelo governo de São Paulo na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, onde estão os principais líderes do grupo, entre eles Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola. Na P2 de Venceslau, os presos recebem as visitas nas celas e têm os banhos de sol controlados. Trata-se de um sistema disciplinar rígido que fica entre aquele a que são submetidos os detentos comuns e o completo isolamento do chamado Regime Disciplinar Diferenciado. O RDD, aliás, era outro alvo da facção. O lobby da organização tentava influenciar os deputados para abrandar o regime. Em 20 de abril de 2008, o preso Marlon José de Souza Rosa, o Melke, telefonou da Penitenciária de Valparaíso, em São Paulo, para um mulher identificada como Cida. Integrante de ONG ligada ao sistema prisional, ela teria sido convidada para depor no Congresso. Sua ida a Brasília ficou registrada em contabilidade da facção - despesas de R$ 3 mil. Conversas Melke era o responsável pelo controle dos gastos da Sintonia dos Gravatas. Ele se dispôs a pagar as despesas de Cida para, segundo o Gaeco, "assegurar com isso que ela defenderia os interesses do PCC perante o Congresso". No dia seguinte, Melke telefonou a um dos generais do PCC, o ladrão Orlando Motta Junior, o Macarrão, preso na P2 de Venceslau. Os dois presos trataram do pagamento e concluíram que "ela defenderia teses simpáticas à organização". Dois dias depois, a advogada Alessandra revela em telefonema que Cida foi ouvida em uma CPI. Na volta, ela recebeu verba para fazer compras na Rua 25 de Março. Os promotores acharam ainda uma planilha na casa de Alessandra, na qual consta que a organização pagou R$ 2 mil a um "certo Doutor João, ligado a uma ONG, para que ele fosse a uma audiência em Brasília". Por um programa de mensagem instantânea, a advogada Patrícia registrou que a Sintonia dos Gravatas deu R$ 100 mil "a um advogado não identificado, por um trabalho realizado junto a uma CPI". (Colaborou Laura Diniz, de O Estado de S. Paulo.)