Um laudo emitido em fevereiro pelo Instituto de Criminalística (IC) de São Paulo sobre o acidente com o Airbus A320 da TAM contradiz o parecer final feito pelo mesmo departamento e concluído nesta semana. Enquanto o primeiro atesta que a pista do Aeroporto de Congonhas atendia às especificações no dia da tragédia, o último aponta uma desconformidade em relação às normas vigentes. O Ministério Público Estadual reconhece que a contradição, presente no inquérito, poderá usada por advogados dos envolvidos para contestar a investigação. No dia do acidente que deixou 199 mortos, a polícia requisitou duas perícias - uma focada nas edificações destruídas pelo jato e outra destinada a elucidar aspectos técnicos e operacionais que levaram ao desastre. Por mais de um ano, cada equipe trabalhou na elaboração do seu laudo. A primeira a apresentar suas conclusões foi a composta pelo peritos Lourenço Trapé Neto, Alessandro Pereira, Marcos Godoy e Jayme Telles, todos do Núcleo de Engenharia do IC. O trecho final do trabalho de 27 páginas diz que os peritos "inferem que o acidente foi provocado por uma somatória de falhas operacionais, pessoais, técnicas, envolvendo procedimentos, comandos, comunicações, equipamentos e manutenção da aeronave". E assinala que as "causas objetivas serão precisadas em laudo complementar". Na seqüencia, afirma: "o pavimento asfáltico da pista principal fora reformado recentemente e apresentava, quando dos exames, condições adequadas de declividade e rugosidade, dentro dos padrões estabelecidos em projeto, de acordo com especificações e atestados do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas)". Revelado ontem pelo Estado, o laudo assinado pelo perito Antonio de Carvalho Nogueira Neto, também do Núcleo de Engenharia do IC, mostra que a macrotextura do asfalto de Congonhas estava em 0,6 mm, abaixo do 1 mm exigido para pavimentos novos e pouco acima do mínimo de 0,5 mm exigido pelas normas. A pista, segundo parecer final de quase 700 folhas e 2.500 páginas de anexos, contribuiu para o acidente. Procurado ontem, Jayme Telles, um dos signatários do primeiro laudo, disse que suas conclusões sobre a pista foram firmadas com base em documentos fornecidos pelo IPT e sua equipe não realizou medições no local. Sobre o fato de parte das 442 fotos anexadas terem sido extraídas de uma animação produzida pelo site do jornal espanhol El País, Telles argumentou que elas têm apenas função ilustrativa. Nogueira Neto não quis se pronunciar, alegando que seu trabalho está em andamento. O promotor Mário Sarrubbo adiantou que não utilizará o primeiro laudo em sua manifestação. O juiz, por seu vez, é livre para analisar as provas e formar convicção, independentemente das conclusões de um ou outro laudo.