Petrobrás e Odebrecht anunciaram ontem a compra da petroquímica Quattor, da família Geyer, pela Braskem. O negócio, que cria a oitava maior petroquímica do mundo, será finalizado em 120 dias. Após a incorporação, a receita bruta da Braskem chegará a R$ 25,8 bilhões, com 26 fábricas e produção de 5,5 milhões de toneladas de resinas por ano.O negócio marca o retorno do poder da Petrobrás na petroquímica, quase duas décadas após abandonar o setor. A estatal dividirá com a Odebrecht o controle da nova empresa, que deterá o monopólio na produção de resinas termoplásticas. A nova Braskem representa o passo definitivo na estratégia do governo de fomentar uma indústria com capacidade para disputar o mercado global - iniciada em 2003 por determinação da então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff.As novas participações de Odebrecht e Petrobrás na Braskem vão depender da aceitação dos minoritários ao aumento de capital que será realizado e que pode chegar a R$ 5 bilhões. Se não aderirem, a fatia da Odebrecht no capital total se mantém em 38,3% e a da Petrobrás sobe de 25,3% para 36%. Se a adesão for de 100%, a participação da Odebrecht cai para 34,5% e a da Petrobrás sobe para 32%.As duas empresas se comprometeram a entrar com R$ 3,5 bilhões do aporte - R$ 1 bilhão da Odebrecht e R$ 2,5 bilhão da Petrobrás. Para realizar o negócio, criaram uma holding, a BRK Investimentos Petroquímicos, com 93,3% do capital com direito a voto da Braskem. Na holding, a Odebrecht detém 50,1% e a Petrobrás, 49,9%. Até agora, a Odebrecht tinha 62,3% do capital votante da Braskem e a Petrobrás, 31%.Para o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, é uma chance de "compartilhar as decisões", e não atuar apenas como acionista minoritário. O acordo prevê que as decisões serão tomadas por consenso, o que garante à estatal poder de veto.A operação inclui a compra da participação da Unipar na Quattor e mais dois ativos por R$ 700 milhões, que serão incorporados à Braskem. O anúncio era esperado desde o fim de 2009, mas esbarrava em questões como a indicação de executivos e a participação da Braskem nos empreendimentos da Petrobrás. Nesse caso, a estatal obteve importante vitória ao garantir a participação da Braskem no Comperj e na Petroquímica Suape - projetos em que vinha encontrando dificuldades com parcerias. O risco de obstrução pelos órgãos de defesa da concorrência é pequeno.Mesmo assim, há grande preocupação de clientes do setor petroquímico. O setor quer redução das taxas de importação de resinas, hoje em 14%, para que produtores estrangeiros possam competir com a nova companhia. A Quattor surgiu em 2007, para ser rival da Braskem. Mas não resistiu à crise e sucumbiu, pondo fim a uma história de 64 anos dos Geyer na petroquímica.
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